Entulho emocional
Porque muitos seres humanos sentem-se pesados, como se carregassem o peso do mundo todo sobre seus ombros?
Qual o venenso e viciante conteúdo que cria camadas e vai inchando, tornando-nos gordos, quase imobilizados?
Qual a saída pra dissolver essas crostas que vão se cristalizando dentro de nós e nos empedindo de traçar novos rumos, de trilhar novos caminhos?
Ao longo de nossas vidas sem nos darmos conta, vamos redigindo páginas e páginas, volumes e volumes,coleções intermináveis sobre a nossa história existêncial. E essas páginas são escritas sem cortes, sem seleções, sem extrações de nada.Quando nos deparamos estamos a ponto de explodir. Taciturnos, irritadiços, inseguros, robotizados, doentes.
O veneno que vamos engolindo e grudando em nosso ser criando camadas e mais camadas são os conflitos diários. São as decepções, as amarguras, as cobranças, as palavras duras ouvidas que nos feriram e criaram feridas que não saram. São medos, traições e as angustias. E tudo isso vai criando imensas cataratas que encobrem a nossa visão de que a vida nos oferece sempre novas alternativas, novas estradas a conhecer, novas oportunidades a experiemntar.
Machado de Assis já dizia que esquecer é uma necessidade. E também que a vida é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo caso, precisa apagar os casos já escritos. Ou seja, ele nos ensina que todos os dias temos que apagar as escritas que nos fazem mal, que nos impedem de crescer. Todos os entulhos acumulados ao longo de cada dia que vivemos tem que ser jogado fora.
A melhor saída é varrer nossa casa interior, limpar os paranhos, as teias que vão se acumulando, fazendo-nos ficar negativistas, tristes, depressivos. Jamais devemos nos desesperar em meio as sombrias aflições de nossas vidas, pois das nuvens mais negras cai água límpida e fecunda. Nada é fácil mas uma vida sem desafios não vale a pena nem ser vivida.
Florbela Espanca diz que a vida é sempre a mesma para todos: uma rede de ilusões e desenganos. E também que o quadro é único, mas a moldura é que é sempre diferente. Então vamos escrever a nossa história sim, mas sem estufar as páginas com nossos entulhos diários, bem como o nosso ser.
Muitas vezes nos sentimos pesados simplesmente porque carregamos muitos entulhos emocionais. Vamos pintar varios quadros, coloridos e criar sempre novas molduras para que a nossa face seja o retardo do nosso estado interior. E na verdade queremos parecer sempre rosadas, esbeltas, saudáveis, não é?