Vovó, que desenho colorido é esse?!

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Agora já é tarde. Eu serei uma avó tatuada.

Coitados dos meus netos. Não saberão do gostinho doce de ter uma avó careta e ultrapassada. Pelo contrário, terão uma que não sabe tricotar e também não sabe receitinha caseira de remédio milagroso, além de ser tatuada. De certo eles não serão os únicos, dado que na realidade carioca atual, a maioria de nós carrega estampas pelo corpo. Mas eu queria muito que os meus netos sentissem a magia que eu sentia com as minhas avós. Queria que eles pensassem em mim com aquela doçura de neto em casa de vó no domingo. Queria ter aquele cheiro de antigo, aquela serenidade do século passado, aquele olhar pouco condizente com essa modernidade. Queria fazer meus netos acreditarem no amor eterno, como os meus avós e seus respectivos casamentos de zilhões de anos. Eu realmente acreditava. Mas hoje em dia está tudo bagunçado.

Não preciso ir até os meus netos para perceber. Já minha filha sofre conseqüências da desordem atual; só do meu lado, Evie não sabe o que é feijão de avó, dado que minha mãe raramente cozinha. Na verdade ela não gosta. Ela agora quer curtir e passear pra lá e pra cá. Ele deve estar certa.

Evie não tem um avô que a leve no portão pra andar de bicicleta... que assista desenhos pelo menos uma vez, pq meu pai odeia desenho. Em vez disso, conhece um avô que anda pra lá e pra cá o tempo todo fiscalizando o trabalho de seus funcionários, indo a reuniões com amigos militares, beber Gin e Wisky. E a tendência da qualidade de vida de neto é só piorar.

Pobres netinhos... com avós siliconadas, malhadas e com botox. Mas eu queria tanto que pelo menos os meus tivessem o romantismo que eu sempre tive com os meus avós. “A vovó só transou com o vovô. Ela não sabe falar Nugget. Não sabe dirigir. E é contra tatuagens”.

Desculpem-me, meus netinhos! A vovó aqui jura que não vai mais se modernizar. Vou garantir a vocês o mínimo de vóternidade. Não vou aprender a mexer em IPod. Não vou mais beber em bares. Não vou mais tentar ficar magra a todo custo, e passar mal... dançar com aquelas roupas de Bellydance, nem pensar! Vou me dedicar a aprender fazer xarope de mel e agrião e vou tentar veementemente fazer um bolo de chocolate que não sole. Assim, mesmo com as tatuagens, vocês vão poder provar dessa candura de avó. E vão me agradecer, com um sorriso sujo de bolo de chocolate, num domingo qualquer daqui uns quarenta anos.

Até breve, então.

Cris Souza Pereira
Enviado por Cris Souza Pereira em 30/09/2011
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