desabafo da matina

Quando caiu a primeira chuva depois de quase seis meses de secura, eu senti uma nostalgia tão profunda, mais tão profunda, assim como a minha impotência diante de você.

Todo ano quando chega setembro, eu costumo colocar nos meus status em todos os meios de comunicação a frase "setembro nostálgico". Não me lembro de quando comecei a sentir isto, muito menos a causa, o Freud provavelmente explicaria. De repente, todo ano comecei a esperar ansiosamente pela primeira chuva, não por estar desidratada, só quero poder tentar resgatar no fundo da minha memória, onde vem tanto sentimento nostálgico. Esse sentimento é tão efêmero, é somente naquele estalo da chuva no chão do cerrado que me traz a tona algo tão familiar, porém não consigo reconhecer... é tão frustrante, logo em seguida vem a angústia, no fundo do peito. Como se eu tivesse perdido algo em alguma etapa da minha vida, por mais que eu tente encontrar, só consigo sentir o cheiro da terra molhada, e ouvir a dança da chuva... e então a efemeridade escorre junto com a lama. Que pena, não foi dessa vez de novo, não encontrei ainda a causa dessa sensação que não há palavras conhecidas que explica.

Essa época sem dúvida é a mais inspiradora do ano para mim, eu fico poética e mais dramática ainda, como seu eu já não fosse né? Bom... na madrugada de terça dessa semana eu sei lá porque, resolvi baixar o nosso histórico de conversa no msn, queria reler a nossa última briga, porque eu realmente preciso entender o que exatamente aconteceu ali, preciso lembrar porque não estamos nos falando além do simples motivo "briga". As coisas não podem funcionar dessa maneira, sem pé, sem cabeça. Então eu resolvi ler o nosso histórico desde o primeiro registro que apareceu aqui no computador, janeiro de 2010, até chegar na nossa penúltima briga(eu acho), que foi em fevereiro, quando terminamos. Isso já era quase quatro da manhã, meus olhos ardiam de tanto olhar para tela do computador, a minha cabeça estava tão confusa, e a agonia de tudo que se passou. Sabe o que encontrei ali? Nós. Havia tantas coisas bonitas que já falamos um para outro, como amigos e como homem e mulher, também encontrei brigas, muitas brigas. E sabe o que é mais incrível, as nossas brigas sempre são as mesmas, os mesmos discursos, os mesmos pontos distintos que nos levavam ao ápice da irracionalidade, quando perdíamos a cabeça, a razão, e nos machucavam, mais e mais. Senti uma dor tão grande no peito quando lia esses momentos, é simplesmente desesperador. Queria poder voltar no tempo e retirar as coisas que te disse, e queria também muito que você um dia realmente enxergue tudo isso, e faça o mesmo que eu.

Hoje terminei de ler praticamente todo nossa conversa desde janeiro de 2010, até chegar na última, inclusive não foi das melhores. Li, reli, e analisei, por isso estou aqui te escrevendo denovo. Há muitas coisas que não consigo te falar quando estou de cabeça quente, me falta a capacidade de organizar as ideias, acabo me expressando mal. Por essa razão quando estamos discutindo, parece sempre uma discussão de um cego e um surdo, é um tanto mirabolante. Mais uma vez, uma discussão sem conclusão, terminada em et cetera. É ai que está a causa de tantas feridas abertas, nos agredimos e não cuidamos depois da ferida, deixamos nas mãos do tempo, achando que ele é milagroso, e é ele que vai curar. Agora fazendo essa observação como leitora, vejo o quanto que estávamos errados sobre essa perspectiva. Falta tanta maturidade na gente, em contra partida excesso de ingenuidade, achando mesmo que podíamos ser bons amigos. E é isso que mais me dói, pensar nas nossas diferenças insolúveis, e no fundo é tudo uma questão de funcionalidade. Realmente, em alguma etapa na nossa convivência era possível construir uma amizade saudável, mas depois de tantas mágoas de ambas partes, e esses pós-silêncios devido ao medo obstruíram de vez os nossos sentimentos bonitos. A verdade e a ilusão estão tão misturados que não somos mais capazes de distingui-los, assim como o amor e a amizade. E agora é tudo tarde demais. Para cuidar dessas feridas só nos resta uma opção, afastamento. E ainda assim, não sei se será curado, então o mínimo que se possa fazer é não aumentar mais ainda as feridas. Pelo histórico é óbvio que se voltarmos a falar um com outro, uma hora uma antiga ferida vai contagiar uma parte saudável, e esse processo sem fim, como um ciclo vicioso, até que um dia vai restar só o pobre, a carniça, rodeada de moscas...

Há um outro aspecto comum entre todas as brigas é o nome X e Y... é inacreditável que eu permiti isso tantas vezes. Relendo isso eu fico sem palavras. Se você foi leviano, eu fui mais ainda, eu realmente estava muito apaixonada para não ter enxergado a distorção disso tudo. Eu realmente estava cega de amor, acreditando em algo que você construiu por simplesmente estar desacreditado em amor depois das suas decepções. E eu me afundei nesse poço sem fim com você, me permitindo a ser magoada, a ser anulada. Os seus julgamentos sobre a minha pessoa primeiramente é uma verdadeira agressão psicológica, e depois a falta de respeito pela pessoa que eu sou. Eu merecia mais cuidado e outras coisas.

Tudo que nós pronunciamos, tudo que nós fizemos trazem uma consequência no futuro. Infelizmente ou felizmente. Será que você fazia ideia de que essa última briga foi a primeira e a única, onde você se chateou? Você nunca havia brigado dessa maneira comigo, apesar de já ter utilizado palavras/expressões duras. Você realmente nunca esteve tão chateado comigo antes. Sabe por que? Porque eu nunca te dei motivo para se chatear comigo, a não ser que seja uma coisa já induzida. Essa é a primeira e a única vez que fiz algo que te chateou. Imagino que você deve ter noção da quantidade de vezes que você me magoou, e também nas inúmeras vezes que eu te perdoei. E a única vez que eu falhei, você não me deu a menor chance. Isso para mim foi o fim, eu posso continuar te amando, mas não quero mais, porque só me traz dor...

Giulia Mutz
Enviado por Giulia Mutz em 30/09/2011
Reeditado em 03/10/2011
Código do texto: T3249222
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