HOJE, FOI DIA DE VINDIMA!
Setembro. Em Portugal é o mês das vindimas. Mês de preparar os lagares e os barris para receberem o vinho novo. Mês que diz adeus ao calor do verão. Fim de um ciclo, início de outro. Sempre assim foi, sempre assim será.
Dos meus avós, o meu pai recebeu a vinha, que cuida com gosto e dedicação, fazendo questão de a manter e aumentar, para produzir o seu vinho. Deles recebeu, também, os ancestrais conhecimentos sobre o cultivo da vinha e produção de vinho, conhecimentos que também me foram transmitidos ao longo dos anos.
Hoje, 29 de setembro, lá na terra (região de Trás-os-Montes), foi dia de vindima. Foi o dia em que as videiras ficaram despojadas desse maravilhoso fruto que é a uva e que meu pai saberá transformar em delicioso vinho.
Agradeço aos meus pais todos os ensinamentos que deles recebi sobre a terra e o amor por tudo que ela nos dá.
Dos meus avós, o meu pai recebeu a vinha, que cuida com gosto e dedicação, fazendo questão de a manter e aumentar, para produzir o seu vinho. Deles recebeu, também, os ancestrais conhecimentos sobre o cultivo da vinha e produção de vinho, conhecimentos que também me foram transmitidos ao longo dos anos.
Hoje, 29 de setembro, lá na terra (região de Trás-os-Montes), foi dia de vindima. Foi o dia em que as videiras ficaram despojadas desse maravilhoso fruto que é a uva e que meu pai saberá transformar em delicioso vinho.
Agradeço aos meus pais todos os ensinamentos que deles recebi sobre a terra e o amor por tudo que ela nos dá.
(Vindima na região do Douro, norte de Portugal. Imagem de 1955.)
MEMÓRIAS DA MINHA TERRA: AS VINDIMAS E O FABRICO DO VINHO DA FAMÍLIA
- A Terra o dá, o homem o saboreia! -
A uva! Esse maravilhoso fruto que o sol fez brotar da videira.
A época das vindimas é um belo momento para se visitar as regiões vinhateiras de Portugal, quando as videiras estão carregadas de cachos de saborosas uvas e a sua folhagem cheia de belas cores.
Boas e gratas lembranças guardo das vindimas lá na aldeia!
A viticultura e a vinicultura (a cultura da vinha e o fabrico do vinho) em Portugal, são atividades que vêm de tempos muito recuados. O clima, o relevo e a constituição do solo oferecem excelentes condições para a cultura da videira e, por isso, a
vinha é uma cultura tão expandida. Cobriria quase toda a superfície do país se a carestia da sua plantação e manutenção não a limitassem.
A época das vindimas é um belo momento para se visitar as regiões vinhateiras de Portugal, quando as videiras estão carregadas de cachos de saborosas uvas e a sua folhagem cheia de belas cores.
Boas e gratas lembranças guardo das vindimas lá na aldeia!
A viticultura e a vinicultura (a cultura da vinha e o fabrico do vinho) em Portugal, são atividades que vêm de tempos muito recuados. O clima, o relevo e a constituição do solo oferecem excelentes condições para a cultura da videira e, por isso, a
vinha é uma cultura tão expandida. Cobriria quase toda a superfície do país se a carestia da sua plantação e manutenção não a limitassem.
A vindima marca a frenética e dourada época do ano em que se faz a colheita desse fruto maravilhoso que é a uva. Para os que não sabem, vindimar significa cortar as uvas que estão nas videiras, nas vinhas (ou vinhedos). Estas devem ser colhidas no momento certo para produzirem os melhores vinhos. Trata-se de um período bastante alegre, durante o mês de setembro e, também, parte do mês de outubro, pois a animação reina entre as pessoas que participam desse ritual que são as vindimas.
Nas aldeias vive-se grande agitação: as uvas são colhidas e transportadas para o lagar, onde são esmagadas/pisadas para delas se extrair o precioso líquido que vai transformar-se em vinho.
(Vindima no norte de Portugal. Imagem de 1955.)
Durante os meses de inverno a videira (ou cepa), cuidadosamente plantada em terrenos arenosos e xistosos, larga as folhas para melhor conseguir resistir ao frio, à neve e ao gelo. Fica como que em hibernação. Na primavera (março e abril), os primeiros raios de sol fazem brotar os primeiros rebentos. Os cachos começam a desenvolver-se e amadurecem durante o Verão, sempre sob o olhar vigilante do agricultor que, como um pai cuidadoso, tem que tratá-la de doenças como o míldio, o oídio e outras pragas de insetos, além de podar, enxertar, espompar, adubar, lavrar, regar e caldear.
A colheita ou vindima, é o culminar de um longo e árduo trabalho e, às vezes, o resultado de um ano inteiro de trabalho, não corresponde às expectativas, devido aos caprichos do tempo.
Desde tenra idade, sempre gostei de participar na vindima dos meus avós, depois na de meu pai, e, sempre que podia, ajudava na de amigos e familiares.
Nesse dia tão esperado, são chamados os familiares, vizinhos e amigos. Todos são poucos para ajudar. Normalmente, as pessoas da família ajudam, retribuindo serviços (torna-jeira), mas também se contratam pessoas que vão ganhar a «jeira», ou seja, um dia de salário que corresponde a 8 horas de trabalho.
Seis horas da madrugada, o sol ainda não se vislumbra no horizonte e já se reúne todo o grupo para ir para os vinhedos cortar as uvas. E todos os anos lá estava eu, vestida com a roupa mais velha que tinha, com um cesto e uma tesoura na mão, chapéu para me proteger do sol e pronta para seguir viagem, juntamente com outras mulheres de várias idades, contentes e sorridentes para mais um ano de colheita. O tema de conversa é sempre o mesmo: «Oxalá este ano a colheita seja melhor do que a do ano passado!»
E por toda a aldeia o cenário se repete: algumas pessoas fazem o percurso sentadas no atrelado dos tratores, outras de pé, em cima da carroçaria das camionetes, outras a cavalo nas mulas ou jumentos, outras, ainda, a pé. Os cachorros vêm logo atrás, correndo, seguindo os seus donos. Todos a postos para começar aquele que vai ser um dia de muito trabalho! Mas é um trabalho que é uma verdadeira festa: as pessoas cantam, riem, oram, discutem por isto ou por aquilo; põe-se a conversa em dia com a prima, com a comadre ou com a amiga que não se vê já mais de um ano; e para tornar a tarefa mais agradável, muitas histórias e mexericos são contados e a alegria reina sempre nesse convívio.
É tão fácil deixar-se contagiar pela alegria e convívio que uma vindima proporciona!
Quando chegamos aos vinhedos o espetáculo é sempre admirável: olhamos em volta e ficamos deslumbrados com a quantidade de cores e tonalidades que nossos olhos veem: é como observar o mais belo quadro, pintado pela maravilhosa artista que é a natureza!
A paisagem abre-se a nossos pés: montes, planícies, encostas e vales salpicados de vinhas. Quer na diagonal, quer na horizontal, para a frente ou para os lados, as vinhas e as uvas ocupam todo o espaço que a vista pode alcançar.
As folhas das videiras atingem, nesta época, uma profusão inigualável de cores: desde o amarelo ao laranja, passando pelo marrom e pelo verde escuro. A cor dos cachos de uvas, vai do amarelo ao verde claro. Do vermelho quase rosa, ao vermelho tinto quase azulado. Um regalo para a vista, paladar e olfato!
O sol dourado de outono (que em Portugal, começa a 21 de Setembro) tinge tudo de ouro.
Mas ninguém pode ficar paralisado com esta vista de cortar a respiração. É dia de vindima e é preciso encher os baldes e os cestos. É preciso pegar na tesoura ou navalha e começar a cortar os frutos das videiras. Uma voz se ouve: «Depressa, que em breve o sol começará a aquecer! A empreitada tem que ficar pronta hoje!» Ouve-se uma risada aqui e mais uma gargalhada ali, e começa então a «empreitada», que nada mais é, que a colheita das uvas.
E é um corre, corre, para ver quem consegue encher os cestos mais depressa. Mas é claro que as primeiras uvas entram mais na barriguinha, do que propriamente no cesto! E como são deliciosas as uvas frescas, ainda umedecidas pelo orvalho! Bagos de uva brancas e tintas, doces como o mais puro mel! Lembro-me, com saudade, de minha mãe dizendo: «Comam, comam, uvinhas enquanto estão fresquinhas! O sol depressa irá aquecê-las!»
A colheita ou vindima, é o culminar de um longo e árduo trabalho e, às vezes, o resultado de um ano inteiro de trabalho, não corresponde às expectativas, devido aos caprichos do tempo.
Desde tenra idade, sempre gostei de participar na vindima dos meus avós, depois na de meu pai, e, sempre que podia, ajudava na de amigos e familiares.
Nesse dia tão esperado, são chamados os familiares, vizinhos e amigos. Todos são poucos para ajudar. Normalmente, as pessoas da família ajudam, retribuindo serviços (torna-jeira), mas também se contratam pessoas que vão ganhar a «jeira», ou seja, um dia de salário que corresponde a 8 horas de trabalho.
Seis horas da madrugada, o sol ainda não se vislumbra no horizonte e já se reúne todo o grupo para ir para os vinhedos cortar as uvas. E todos os anos lá estava eu, vestida com a roupa mais velha que tinha, com um cesto e uma tesoura na mão, chapéu para me proteger do sol e pronta para seguir viagem, juntamente com outras mulheres de várias idades, contentes e sorridentes para mais um ano de colheita. O tema de conversa é sempre o mesmo: «Oxalá este ano a colheita seja melhor do que a do ano passado!»
E por toda a aldeia o cenário se repete: algumas pessoas fazem o percurso sentadas no atrelado dos tratores, outras de pé, em cima da carroçaria das camionetes, outras a cavalo nas mulas ou jumentos, outras, ainda, a pé. Os cachorros vêm logo atrás, correndo, seguindo os seus donos. Todos a postos para começar aquele que vai ser um dia de muito trabalho! Mas é um trabalho que é uma verdadeira festa: as pessoas cantam, riem, oram, discutem por isto ou por aquilo; põe-se a conversa em dia com a prima, com a comadre ou com a amiga que não se vê já mais de um ano; e para tornar a tarefa mais agradável, muitas histórias e mexericos são contados e a alegria reina sempre nesse convívio.
É tão fácil deixar-se contagiar pela alegria e convívio que uma vindima proporciona!
Quando chegamos aos vinhedos o espetáculo é sempre admirável: olhamos em volta e ficamos deslumbrados com a quantidade de cores e tonalidades que nossos olhos veem: é como observar o mais belo quadro, pintado pela maravilhosa artista que é a natureza!
A paisagem abre-se a nossos pés: montes, planícies, encostas e vales salpicados de vinhas. Quer na diagonal, quer na horizontal, para a frente ou para os lados, as vinhas e as uvas ocupam todo o espaço que a vista pode alcançar.
As folhas das videiras atingem, nesta época, uma profusão inigualável de cores: desde o amarelo ao laranja, passando pelo marrom e pelo verde escuro. A cor dos cachos de uvas, vai do amarelo ao verde claro. Do vermelho quase rosa, ao vermelho tinto quase azulado. Um regalo para a vista, paladar e olfato!
O sol dourado de outono (que em Portugal, começa a 21 de Setembro) tinge tudo de ouro.
Mas ninguém pode ficar paralisado com esta vista de cortar a respiração. É dia de vindima e é preciso encher os baldes e os cestos. É preciso pegar na tesoura ou navalha e começar a cortar os frutos das videiras. Uma voz se ouve: «Depressa, que em breve o sol começará a aquecer! A empreitada tem que ficar pronta hoje!» Ouve-se uma risada aqui e mais uma gargalhada ali, e começa então a «empreitada», que nada mais é, que a colheita das uvas.
E é um corre, corre, para ver quem consegue encher os cestos mais depressa. Mas é claro que as primeiras uvas entram mais na barriguinha, do que propriamente no cesto! E como são deliciosas as uvas frescas, ainda umedecidas pelo orvalho! Bagos de uva brancas e tintas, doces como o mais puro mel! Lembro-me, com saudade, de minha mãe dizendo: «Comam, comam, uvinhas enquanto estão fresquinhas! O sol depressa irá aquecê-las!»
(Mata-bicho da vindima. Imagem dos anos 50.)
Conforme as horas vão passando, o sol vai castigando, cada vez mais. Por volta das 9 horas, como sabe bem a merenda! É costume, os «patrões», ou seja, os proprietários da vinha, oferecerem o «mata-bicho» aos trabalhadores. O «mata-bicho» é o desjejum. Todos param de trabalhar e se reunem, à espera que a «patroa» coloque todos os petiscos na mesa improvisada.
«Vamos matabichar!» E eis que todos se dirigem para a frondosa sombra de uma oliveira onde está estendida uma toalha a fim de degustarem a saborosa merenda: bom pão transmontano, pataniscas e bolinhos de bacalhau, bacalhau frito, azeitonas, presunto defumado, linguiça, queijo de ovelha e de cabra, figos secos, bolinhos econômicos e pão de ló para adoçar a boca aos vindimadores. E, como não pode deixar de ser, o garrafão do vinho vai passando de mão em mão. Para as senhoras que não bebem vinho, há água da fonte, fresquinha.
Merenda comida, todos voltam ao trabalho. A tarefa é sempre a mesma: colher as uvas, encher os baldes e despejá-los nos enormes contentores que os homens se encarregam de transportar para as camionetes ou atrelados de tratores. Depois seguirão para o lagar.
Atualmente ainda existem famílias que transportam as uvas para o lagar em carros de bois. Quando eu era criança, meu pai e meus avós faziam este transporte em carro puxado por dois jumentos.
Na vinha, a manhã vai decorrendo: conversa daqui, conversa dali, rindo e cantando alegres canções populares. O tempo passa quase sem darmos conta, entretidos na azáfama da colheita das uvas. Com o passar das horas, são percorridos vários quilômetros entre os valados das videiras. Muitos bagos de uva estouram nas mãos que se "colam" à tesoura. As abelhas fazem a festa, insistindo em voar em volta das mãos meladas de suco de uva.
Quando o sol já vai alto, a sede chega a ser desesperante. O garrafão do vinho e a garrafa da água fresca vai passando de mão em mão. Nesta época do ano, no nordeste transmontano, a temperatura atinge mais de 40 graus. Não raras vezes, as senhoras sentem-se mal com o calor. Há que parar um pouco, à sombra, para restabelecer as forças e o ânimo.
Bem antes de soar o meio-dia nas torres sineiras das igrejas das aldeias mais próximas, o estômago, que há muito se fartou de receber uvas, começa a pedir algo mais consistente.
Como é bem vindo o almoço! Normalmente é servido um prato quente: boa carne e boas sardinhas, que a «patroa» assa nas brasas, apesar do calor. Come-se também tudo o que sobrou do mata-bicho, e que bem que sabe, pois há sempre muito apetite!
Lembro-me bem dos almoços da vindima que minha avó gostava de servir aos vindimadores. Cozinhava, em casa, uma grande quantidade de bacalhau, batatas e legumes. Tudo regado com bom azeite. À hora do almoço, lá vinha ela, com um grande cesto, que transportava à cabeça, onde trazia a comida, bom pão centeio, vinho e água fresca.
«Vamos matabichar!» E eis que todos se dirigem para a frondosa sombra de uma oliveira onde está estendida uma toalha a fim de degustarem a saborosa merenda: bom pão transmontano, pataniscas e bolinhos de bacalhau, bacalhau frito, azeitonas, presunto defumado, linguiça, queijo de ovelha e de cabra, figos secos, bolinhos econômicos e pão de ló para adoçar a boca aos vindimadores. E, como não pode deixar de ser, o garrafão do vinho vai passando de mão em mão. Para as senhoras que não bebem vinho, há água da fonte, fresquinha.
Merenda comida, todos voltam ao trabalho. A tarefa é sempre a mesma: colher as uvas, encher os baldes e despejá-los nos enormes contentores que os homens se encarregam de transportar para as camionetes ou atrelados de tratores. Depois seguirão para o lagar.
Atualmente ainda existem famílias que transportam as uvas para o lagar em carros de bois. Quando eu era criança, meu pai e meus avós faziam este transporte em carro puxado por dois jumentos.
Na vinha, a manhã vai decorrendo: conversa daqui, conversa dali, rindo e cantando alegres canções populares. O tempo passa quase sem darmos conta, entretidos na azáfama da colheita das uvas. Com o passar das horas, são percorridos vários quilômetros entre os valados das videiras. Muitos bagos de uva estouram nas mãos que se "colam" à tesoura. As abelhas fazem a festa, insistindo em voar em volta das mãos meladas de suco de uva.
Quando o sol já vai alto, a sede chega a ser desesperante. O garrafão do vinho e a garrafa da água fresca vai passando de mão em mão. Nesta época do ano, no nordeste transmontano, a temperatura atinge mais de 40 graus. Não raras vezes, as senhoras sentem-se mal com o calor. Há que parar um pouco, à sombra, para restabelecer as forças e o ânimo.
Bem antes de soar o meio-dia nas torres sineiras das igrejas das aldeias mais próximas, o estômago, que há muito se fartou de receber uvas, começa a pedir algo mais consistente.
Como é bem vindo o almoço! Normalmente é servido um prato quente: boa carne e boas sardinhas, que a «patroa» assa nas brasas, apesar do calor. Come-se também tudo o que sobrou do mata-bicho, e que bem que sabe, pois há sempre muito apetite!
Lembro-me bem dos almoços da vindima que minha avó gostava de servir aos vindimadores. Cozinhava, em casa, uma grande quantidade de bacalhau, batatas e legumes. Tudo regado com bom azeite. À hora do almoço, lá vinha ela, com um grande cesto, que transportava à cabeça, onde trazia a comida, bom pão centeio, vinho e água fresca.
(Vindima no norte de Portugal. Imagem de 1980.)
Terminado o almoço, todos voltam ao trabalho. E como custa suportar o sol! Mulheres e crianças sofrem com o calor abrasador da tarde. Os homens limpam o suor que lhes escorre da testa. A ponta da blusa serve muito bem para o efeito!
Todos chegam ao fim do dia cansados, pintados com o «tinto» das uvas e querem regressar depressa para vê-las no lagar, onde irão ser pisadas por vários pares de pés.
O lagar é uma espécie de tanque feito em pedra ou concreto, onde são triturados frutos para separar a sua parte líquida da massa sólida (como as azeitonas e as uvas). Atualmente há processos mecânicos para triturar as uvas, mas antigamente eram pisadas pelos homens que participavam na vindima.
Durante a «pisa» das uvas, cantavam-se cantigas antigas, acompanhados pelo realejo ou concertina. Os homens comiam e bebiam enquanto deambulavam pelo lagar, sempre pisando, levantando bem as pernas e percorrendo todo o espaço. Terminavam à meia noite. Quando os homens da família eram insuficientes, em número, era preciso contratar trabalhadores que iam «ganhar a meia noite», uma quantia de dinheiro correspondente às horas de trabalho passadas no lagar, pisando as uvas. Comendo, bebendo e cantando lá se ia passando a noite. Várias pessoas, amigos, familiares e vizinhos se juntavam para ver a festa da «lagarada».
Meu pai ainda utiliza o processo tradicional. Para ele é uma enorme satisfação entrar no lagar e pisar as suas uvas com os próprios pés!
Comecei a pisar uvas, no lagar dos meus avós, tinha eu seis ou sete aninhos. Era uma alegria indescritível!
O vinho e a vinha sempre fizeram parte da minha vida. Desde cedo comecei a assistir a todo o processo: desde o cultivo da videira até à fabricação do precioso néctar.
Todos chegam ao fim do dia cansados, pintados com o «tinto» das uvas e querem regressar depressa para vê-las no lagar, onde irão ser pisadas por vários pares de pés.
O lagar é uma espécie de tanque feito em pedra ou concreto, onde são triturados frutos para separar a sua parte líquida da massa sólida (como as azeitonas e as uvas). Atualmente há processos mecânicos para triturar as uvas, mas antigamente eram pisadas pelos homens que participavam na vindima.
Durante a «pisa» das uvas, cantavam-se cantigas antigas, acompanhados pelo realejo ou concertina. Os homens comiam e bebiam enquanto deambulavam pelo lagar, sempre pisando, levantando bem as pernas e percorrendo todo o espaço. Terminavam à meia noite. Quando os homens da família eram insuficientes, em número, era preciso contratar trabalhadores que iam «ganhar a meia noite», uma quantia de dinheiro correspondente às horas de trabalho passadas no lagar, pisando as uvas. Comendo, bebendo e cantando lá se ia passando a noite. Várias pessoas, amigos, familiares e vizinhos se juntavam para ver a festa da «lagarada».
Meu pai ainda utiliza o processo tradicional. Para ele é uma enorme satisfação entrar no lagar e pisar as suas uvas com os próprios pés!
Comecei a pisar uvas, no lagar dos meus avós, tinha eu seis ou sete aninhos. Era uma alegria indescritível!
O vinho e a vinha sempre fizeram parte da minha vida. Desde cedo comecei a assistir a todo o processo: desde o cultivo da videira até à fabricação do precioso néctar.
(Por todo o país painéis de azulejos perpetuam a história das vindimas)
Depois das uvas bem pisadas é preciso deixar o mosto fermentar. O mosto é o suco da uva, fresco, obtido antes que se inicie o processo de fermentação.
Minha mãe tem o costume de preparar jeropiga, um delicioso licor que é feito com o mosto, antes da fermentação. Adiciona-lhe aguardente bagaceira produzida pelo meu pai, no ano anterior. Passados cerca de dois meses, a bebida está pronta a ser consumida. No dia de São Martinho (11 de novembro), é tradição provar o vinho novo, beber jeropiga e assar castanhas.
Na região onde nasci produz-se vinho maduro (branco e tinto), também algum vinho generoso (também conhecido por vinho tratado, vinho fino ou vinho do Porto) e ainda aguardente bagaceira.
As vindimas e todo o processo de fabricação do vinho são lembranças que sempre associo à casa de meus avós, uma época tão longínqua que já quase se confunde com um sonho.
Minha mãe tem o costume de preparar jeropiga, um delicioso licor que é feito com o mosto, antes da fermentação. Adiciona-lhe aguardente bagaceira produzida pelo meu pai, no ano anterior. Passados cerca de dois meses, a bebida está pronta a ser consumida. No dia de São Martinho (11 de novembro), é tradição provar o vinho novo, beber jeropiga e assar castanhas.
Na região onde nasci produz-se vinho maduro (branco e tinto), também algum vinho generoso (também conhecido por vinho tratado, vinho fino ou vinho do Porto) e ainda aguardente bagaceira.
As vindimas e todo o processo de fabricação do vinho são lembranças que sempre associo à casa de meus avós, uma época tão longínqua que já quase se confunde com um sonho.
(Pisando as uvas no lagar. Imagem de 1945.)
Voltando ao lagar: depois de pisadas as uvas, o produto resultante fica fermentado durante três ou quatro dias, até atingir a percentagem de álcool ideal.
O delicioso néctar que dá pelo nome de vinho é o resultado da fermentação do suco extraído das uvas, juntamente com a casca, as graínhas (sementes) e o caule seco.
Para que o vinho possa adquirir cor escura (tinto) é necessário que haja maceração das cascas das uvas de cor roxa (ou tinta), nas quais está presente o tanino. Com uvas brancas fabrica-se vinho branco. Quando é retirado do lagar, o vinho vai diretamente para os barris onde o processo de fermentação ainda vai continuar por alguns dias. Mas muito há ainda a fazer até que se possa provar o vinho novo... Espera-se pelo mês de novembro, pelos míscaros (cogumelos silvestres), pelo São Martinho e pelos magustos das castanhas.
Até lá... Vai-se degustando o vinho que ficou no barril, do ano anterior.
(Depois de tanta azáfama, é preciso festejar:
Festa das Vindimas no norte de Portugal. Foto de 1946.)
CONFIANÇA
O que é bonito neste mundo, e anima,
É ver que na vindima
De cada sonho
Fica a cepa a sonhar outra aventura...
E que a doçura
Que se não prova
Se transfigura
Numa doçura
Muito mais pura
E muito mais nova...
(Miguel Torga)