No tempo dos maias

Dizem que os Maias acreditavam que o tempo não é reto e linear, nessa prafrenteza toda que nós atribuímos. Eles pensavam no tempo como algo cíclico, que se repetia, e marcavam seu calendário com um conjunto complexo de engrenagens que giravam em torno umas das outras. Dizem também que eles previram o fim do mundo para 2012, o que não acontecerá, como você sabe, especialmente se você estiver lendo isso a partir de 2013. No fundo, morro de medo deles estarem certos. Não pela questão do fim do mundo, mas pela questão do tempo cíclico. Vai que volta a tal da Lambada? Já não chega o quanto sofremos no passado.

Mas no passado eramos mais casca-grossa. Hoje criamos um geração de almofadinhas envoltos em plástico bolha. Outro dia vi um rapaz parado na frente de uma porta reclamando: “como assim não abre sozinha?”. É como se o mundo nos devesse um “muito obrigado” por cada trivialidade que fazemos. Até o meu e-mail me dá os parabéns por ter lido minhas mensagens. O mais certo seria: “você não fez mais do que a sua obrigação, agora volte ao trabalho”. Mas isso seria bullying. Esse sim, um moribundo desejado. Quem já sofreu bullying sabe o quanto dói e o quanto machuca. Porém, na atual toada de nossa caminhada para os extremos, espero o dia de ver aquele garoto grandão e fortão chorando porque, na escola, todos apontam para ele, riem e o humilham dizendo que ele é um bully.

Não que esse novo tempo seja ruim, ao contrário. Hoje em dia podemos colocar um fone bluetooth no ouvido e sair na rua falando sozinho, e todos pensam que estamos ao telefone. É uma terapia gratuita. Antigamente, para comprar algo você tinha que ira a um lugar, com dinheiro na mão e sair carregando alguma coisa. Agora tudo se resolve por mágica, menos as contas, que continuam chegando. Algumas emoções se perderam, como chupar balas Soft, que podiam te matar engasgado, mas eram tão gostosas... Mas hoje podemos ser “amigo” virtual do presidente dos Estados Unidos e acompanhá-lo, ou melhor, ignorar o que ele diz, esnobando o homem mais poderoso do mundo.

A verdade é que não gosto de escrever essas coisas do tipo “no meu tempo”. Meu tempo é hoje e agora, mesmo que tenha visto os video-games com acabamento em madeira. Celebro o fim da necessidade das fotos 3x4 e o tempo do “don’t ask, Google it”. Mas volta e meia, sem querer, acabo falando do assunto. Pode ser coisa da idade, afinal, cada vez que preencho um formulário na internet e chega no campo “Data de nascimento”, passo vários minutos apertando a setinha para baixo para chegar no meu ano. Mas também pode ser algo cíclico. Aliás, dizem que os Maias acreditavam que o tempo não é reto e linear, nessa prafrenteza toda que nós atribuímos.