Presente especial e significativo (parte 2)

Terminei de ler o lindo presente que ganhei da minha mãe. E pus-me a refletir qual seria a tal mensagem subliminar que ela queria me dizer com este livro. Mesmo durante a leitura, havia pensado muito e vasculhado fundo nos recantos de cada parágrafo em busca de uma resposta satisfatória.

Minha primeira suspeita foi que a mensagem tinha algo relacionado com sexualidade. Não sei por quê, instinto apenas. Talvez eu é veja conotação sexual em tudo. E como nesse sentido, puxei bem à minha mãe, então... bom, deixa isso pra lá.

A cada descrição do comportamento dos personagens, me vinha à cabeça “será que é isso? Mas se for, o que exatamente ela quer que eu compreenda?” Quase uma obsessão mesmo...

Comentei sobre o presente e a minha busca incessante com várias pessoas, algumas inclusive que haviam lido o livro. Quem sabe me dessem uma pista, uma opinião, uma luz. E deram. A pista errada. Li até o final esperando revelações que não aconteceram. E o autor, muito sapequinha e sagaz, talvez tenha escrito propositalmente de forma a induzir sutilmente conclusões divergentes em relação a algumas passagens. É um caso típico em que o leitor completa a obra.

Como ele nos conduz a pensamentos e impressões que em nenhum momento explicita no texto, cogitei a possibilidade de que a mensagem da minha mãe também poderia ser implícita, quase inconsciente. Ela sentiu e concluiu algo que não conseguiria expressar em palavras, e talvez gostaria que eu concluísse o mesmo. Tudo hipótese, suposição, probabilidade.

Na metade da leitura, mudei completamente minha suspeita. Diante de tanto sofrimento, dores e privações, passei a pensar que a mensagem era para que eu desse mais valor na minha vida e nas minhas vitórias. Ou seja, para eu viver mais feliz, lembrando todas as dificuldades por que já passamos. E de fato, isso aconteceu. Mas essa também era uma conclusão minha, talvez não especificamente a mensagem da minha mãe.

Quando terminei a leitura, mil pensamentos e emoções me assolaram. O final é muito comovente. Tive que segurar discretamente uma lágrima que bateu à porta do cantinho dos meus olhos. Segurei porque havia pessoas ao redor. Bobeira, eu sei. Deveria tê-la libertado.

Mas e agora? Terminei. O que será que a mamãe quis dizer...? Pensei na sua natureza explícita. Se quisesse realmente me dizer alguma coisa, teria sido clara. E se fosse surpresa, ainda assim diria algo como “leia este livro, nele tem algo importante para você.” Mas não falou nada disso, não. Simplesmente mo presenteou e disse que “o livro é lindo”.

Ou seja, a mensagem é: não há mensagem alguma! Por que é que tudo tem que ter uma mensagem, uma indireta, um porquê, um significado oculto nas profundezas? Ela me deu o livro simplesmente porque ele é lindo. Só isso e pronto. Simples assim. Então, na verdade, a mensagem estava na minha frente o tempo todo...

Adivinhando exatamente o dia em que eu terminaria a leitura, ela me envia um e-mail assim: “Oi, filho, você deve estar acabando de ler o livro. E aí, tá gostando da história? Apesar de ler com olhos ávidos, entendeu que eu não queria dizer nada de especial? Só achei a história linda e pensei que você pudesse desestressar com esse tipo de leitura. Beijos e boa sorte!”

Minha mãe é maravilhosa mesmo. Apesar de eu sempre saber disso, fiquei pasmo com este seu e-mail justamente quando terminei a leitura. Não é coincidência, é “mãe”.

E de fato, a história do livro, tal como a da vida, tem suas dores, mas é linda. O título do livro? Aguarde o próximo capítulo...

(Catalão, 24/06/2011)

Hélio Fuchigami
Enviado por Hélio Fuchigami em 29/09/2011
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