MANHÃ GELADA EM UM INTERIOR PEQUENO
Seguia na rua escura das seis horas da manhã do estômago faminto nos pés espaçados no tênis do irmão mais velho. Sentia o peso da mochila cheia de livros nos ombros fracos dos ossos ainda em desenvolvimento. No farfalhar das pestanas em sono, possuía os dedos dos pés um inusitado cão-guia decor no caminho da escola. Para lá Ana Beatriz filha única de segundo casamento da mãe viúva ia... e sorria.
Vinha na outra rua, João Pedro seu vizinho de outra classe da mesma escola. Compartilharam em um único “oi” o estômago faminto e a mochila farta. O desjejum da rua deserta é uma bala de morango bem dividida. Perguntavam-se em silêncios das mentes o por quê do doce que sacia, também sedenta ao mesmo tempo? Pergunta enorme em um coração minúsculo de um recém sexto aniversário sem bolo.
O vento da primavera castiga nos joelhos descobertos da bermuda escolar recebida. O mesmo vento belisca a pele no furo da camiseta na altura do trapézio da menina, que malabariza por entre a guia da calçada de uma avenida movimentada e apressada.
“Por que todo mundo tem pressa?”
“EXG-1452, aquele é vermelho, quero um desses quando crescer”
A ânsia de querer motorizar-se não é maior do que o grito no vazio aparelho digestivo. João Pedro percebe, depois de um ano rotineiro que aqueles que tem carros tem também dinheiro suficiente para um pão com manteiga e café com leite. Pois é, carro mesmo só depois de saciar a fome.
O sono do bocejo dela era incentivado pelo prazer dele em encontrar outro sexto anista para falar daquele carro vermelho barulhento. Ela sabia que era melhor ouvir o comentário da boneca nova da Letícia, mesmo que ela em casa, não houvesse nunca pego em uma. Só na brinquedoteca: Mundo fantástico e temporário. Poderia Ana Beatriz ser condômina dos tapetes e vizinha das bonecas, morando naquela casa de madeira?
“Talvez eu até caiba nela!”
“Até parece! Não seja boba, o farol fechou”.
De longe é possível ver o monstro de concreto. Tem dois andares e mil janelas. É possível perceber o entusiasmo no “ai credo” inesquecível de João Pedro. Mas também, o que se pode esperar de um lugar rodeado de paredes gigantes, inspetores gigantes emparedados nos portões de ferro, presos sem poder sair durante as cinco horas maravilhosas de um dia de sol que não fazia há mais de três semanas. Mas não importa, qual a real razão de estarem ali?
Suas pequenas cucas não discutem tal pergunta criada pelo mundo adulto. Estudar é preciso, brincar não seria mais? Por sorte só basta obedecer e emudecer.
O portão se fecha às costas dos errantes para mais uma aventura que se inicia.
S.P – 28/SET/2011
Seguia na rua escura das seis horas da manhã do estômago faminto nos pés espaçados no tênis do irmão mais velho. Sentia o peso da mochila cheia de livros nos ombros fracos dos ossos ainda em desenvolvimento. No farfalhar das pestanas em sono, possuía os dedos dos pés um inusitado cão-guia decor no caminho da escola. Para lá Ana Beatriz filha única de segundo casamento da mãe viúva ia... e sorria.
Vinha na outra rua, João Pedro seu vizinho de outra classe da mesma escola. Compartilharam em um único “oi” o estômago faminto e a mochila farta. O desjejum da rua deserta é uma bala de morango bem dividida. Perguntavam-se em silêncios das mentes o por quê do doce que sacia, também sedenta ao mesmo tempo? Pergunta enorme em um coração minúsculo de um recém sexto aniversário sem bolo.
O vento da primavera castiga nos joelhos descobertos da bermuda escolar recebida. O mesmo vento belisca a pele no furo da camiseta na altura do trapézio da menina, que malabariza por entre a guia da calçada de uma avenida movimentada e apressada.
“Por que todo mundo tem pressa?”
“EXG-1452, aquele é vermelho, quero um desses quando crescer”
A ânsia de querer motorizar-se não é maior do que o grito no vazio aparelho digestivo. João Pedro percebe, depois de um ano rotineiro que aqueles que tem carros tem também dinheiro suficiente para um pão com manteiga e café com leite. Pois é, carro mesmo só depois de saciar a fome.
O sono do bocejo dela era incentivado pelo prazer dele em encontrar outro sexto anista para falar daquele carro vermelho barulhento. Ela sabia que era melhor ouvir o comentário da boneca nova da Letícia, mesmo que ela em casa, não houvesse nunca pego em uma. Só na brinquedoteca: Mundo fantástico e temporário. Poderia Ana Beatriz ser condômina dos tapetes e vizinha das bonecas, morando naquela casa de madeira?
“Talvez eu até caiba nela!”
“Até parece! Não seja boba, o farol fechou”.
De longe é possível ver o monstro de concreto. Tem dois andares e mil janelas. É possível perceber o entusiasmo no “ai credo” inesquecível de João Pedro. Mas também, o que se pode esperar de um lugar rodeado de paredes gigantes, inspetores gigantes emparedados nos portões de ferro, presos sem poder sair durante as cinco horas maravilhosas de um dia de sol que não fazia há mais de três semanas. Mas não importa, qual a real razão de estarem ali?
Suas pequenas cucas não discutem tal pergunta criada pelo mundo adulto. Estudar é preciso, brincar não seria mais? Por sorte só basta obedecer e emudecer.
O portão se fecha às costas dos errantes para mais uma aventura que se inicia.
S.P – 28/SET/2011