Personalidade integrada e os contos de fadas






Os contos infantis fazem a criança imaginar como realidade fatos fantásticos e isto se torna importante porque permite que vá elaborando valores, distinguindo certo e errado, o bem e mal, a luz e a sombra e aprende a sonhar. Há na infância uma fase propícia para se tornar fértil a imaginação. Será muito bom que os pais retornem ao quadro de ler histórias infantis para seus filhos, pois os benefícios serão visíveis no futuro.
Jamais devem temer, como se propagou, que os contos de fadas podem ser estímulo para a mentira e afastamento da realidade. A linguagem tem muito de real para estimular a formação dos pensamentos da criança. É bem verdade que os contos possuem uma carga de dramaticidade, mas a vida cotidiana também o é. São descritos desencontros, tristeza, destruição, vitória do bem, punição da maldade, casamento, felicidade. Há bruxas, monstros, animais que falam, mágicas etc., mas tudo com um sentido voltado para um final que dá margem ao otimismo.
Dizem alguns psicólogos infantis que “a maior contribuição dos contos de fadas é em termos emocionais,propondo-se - e realizando concretamente-quatro tarefas: fantasia, escape, recuperação e consolo.” É mostrado à criança que há sempre saídas e os finais felizes possibilitam à criança enxergar a vida por um prisma positivo.
Bruno Bettelheim, elabora um texto –“Rainha abelha”, que consta do livro “A Psicanálise dos contos de fadas”, apresentando como os aspectos da natureza podem ser opostos e complementares. A criança tem conhecimento que a abelha produz o mel, mas também sabe que ela pode picar, causar dor e dependendo do tipo de abelha, seu ataque junto às outras pode até causar a morte. Sabe também que a abelha trabalha duro, colhendo o pólen para dar conta de sua missão que é positiva.
O conto a que o psicanalista se refere, conta como dois filhos de um rei partem em busca de aventura. Suas vidas são emocionantes e desregradas e não pensam em retornar ao reino. O terceiro filho, Simplório, vai em busca dos irmãos. Ao encontrá-los é zombado e se acham mais inteligentes e sabidos. Simplório é capaz de mobilizar seus recursos internos e ser sensato, respeitador das forças do meio ambiente.
Viajam os três irmãos pelo mundo. Ao encontrarem um formigueiro os dois irmãos intencionam a sua destruição, sendo impedido por Simplório. Mais adiante avistam uns patos no lago e já imaginam como seriam suas refeições com eles assados. Mais uma vez são impedidos. Prosseguem e encontram uma colméia e pensam em como destruí-la. Não é permitido, mais uma vez.
Seguindo encontram um castelo onde todos dormem, com exceção de um anãozinho. São bem recebidos, mas é proposta uma missão para possibilitar o desencanto. Os dois irmãos fracassam e são transformados em pedra. Simplório chora pensando que poderá não conseguir cumprir a tarefa. As formigas que foram, por ele, salvas o ajudam, buscando as pérolas perdidas na floresta; os patos buscam a chave onde encontram-se as três princesas adormecidas e a Rainha-abelha beija levemente os lábios da princesa que terá por destino casar com quem fizesse os moradores do palácio voltarem à vida.
O que está por trás do conto: os dois irmãos encarnam o inconsciente que busca só o prazer, não parecendo humanitários. As pessoas insensíveis possuem o coração de pedra e eles foram transformados em pedras. Simplório, guiado pelo Superego, aquela instância psíquica que aponta para o certo e o errado, no caso do conto, que não se deve matar os animais por capricho. Sozinho, Simplório, também pouco poderia fazer, daí contar com os recursos do reino animal, para executar as tarefas estabelecidas pelo único ser que ficou imune ao encanto de adormecer ou virar pedra.
Enfim, a personalidade bem estruturada, integrada, realiza milagres por juntar prazer e realidade, por acreditar em si, no bem, na capacidade que possui poderes e que ao acreditar consegue quebrar o encantamento, mesmo continuando a acreditar em sonhos que são possíveis de serem realizados.

Edméa
Enviado por Edméa em 28/09/2011
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