A Era dos Grandes Locutores
Antes da chegada da televisão, o rádio predominava nas transmissões esportivas. E mesmo após a chegada da TV, muitos desportistas ainda preferiam assistir aos jogos televisionadosouvindo a voz de seus locutores preferidos do rádio.
Eu, desde criança, ouvi muitos jogos de futebol pelo rádio. Alguns, ou muitos, dos locutores daquela época já não estão mais entre nós.
Certa vez, ai por volta de 1947, com o Palmeiras dominando o Campeonato paulista fui com o meu pai (o Sr. Ettore), à casa do Sr. Bruno Girardi, amigo de meu pai, que o havia convidado para ouvir o jogo entre o Palmeiras e a Portuguesa Santista (o alviverde venceu por 4 x 2).
O Sr. Bruno havia convidado vários colegas que, como o meu pai, trabalhavam na Cia Mogiana de Estradas de Ferro para irem ouvir o jogo. Isso era coisa muito normal naquele tempo, pois muito poucos tinham aparelho de rádio em casa. Todo rádio era elétrico. Os modelos portáteis não existiam até então.
Mas voltando ao jogo, a Lusa santista tinha um bom time. O Palmeiras martelava, mas o goleiro Andú fechava o gol. O locutor que narrava a partida era Rabelo Júnior, que no pensamento dos torcedores palmeirenses que ali estavam, era o mais simpático ao alviverde.
O jogo continuava um 0 x 0 dolorido quando Arturzinho, meia direita do Palmeiras, pegou uma bola no meio de campo, entrou na área e chutou, mas o zagueiro piloto da Portuguesa cortou o lance com a mão. Tudo isto dito pelo locutor. Foi uma festa só, na casa do Sr. Girardi, pois todos achavam que cortar com a mão dentro da área seria pênalti. E que o árbitro o marcaria.
Ai o locutor disse: “ A Portuguesa está formando a sua barreira a dois metros fora da linha da grande área..”. Todos podem imaginar a quantidades de elogios direcionados à santa mãezinha do locutor Rabelo Junior, após essa sua intervenção. Isso às vezes acontecia com alguns locutores da época.
Tivemos na rádio Tupi de São Paulo uma dupla da pesada formada por Aurélio Campos, na narração, e Geraldo Bretas, nos comentários. Eram honestos, competentes, mas não alisavam ninguém. Geraldo Bretas era imparcial em seus comentários. Se ele comentasse algo contrário a algum jogador era difícil o jogador ir para frente na carreira.
Ai por volta de 1946 ele fez um comentário pesado contra o Leônidas da Silva, craque mais caro do Brasil, na época. O São Paulo gastara 200 contos de réis para trazê-lo do Rio de Janeiro, e Bretas insistia em pegar no pé do “Diamante Negro”. Só que Leônidas era um jogador consagrado e foi se impacientando com aquela voz, que parecia vir de um fracote, e resolveu encarar Geraldo Bretas de frente.
Então, chegou na cabine da Tupi e perguntou do Geraldo Bretas. Um auxiliar falou a Leônidas: ”O Bretas é aquele ali”. Leônidas viu um “homenzarrão”, que alguns anos antes havia lutado boxe, e então, sem que ninguém percebesse foi saindo devagar e sumiu de vista.
Depois, seus companheiros de clube como Noronha, Remo e Teixeirinha lhe perguntaram: “Então, você quebrou a cara do Bretas?” E caíram na risada. Era só Leônidas que não conhecia o Geraldo Bretas.
Mas havia muitos bons locutores no rádio esportivo do Brasil.
A dupla Pedro Luiz e Mário Moraes fez história na Rádio Panamericana (hoje Jovem Pan). Geraldo José de Almeida na narração e Ari Silva nos comentários formaram, também, uma grande dupla na Rádio Record.
Edson Leite foi outro famoso locutor da Rádio Bandeirantes de São Paulo, o famoso Escrete do Rádio.
Jorge Cury e Luis Alberto eram os locutores preferidos no Rio de Janeiro, onde também havia Antônio Cordeiro outro excelente narrador. Todos da Rádio Nacional.
Na Rádio Globo do Rio tinha o fabuloso narrador Waldir Amaral e nos comentários Benjamim Wright. Na Rádio Guanabara havia o Doalcei Bueno de Camargo, com Vitorino Vieira e também João Saldanha.
Doalcei ainda atuou na Rádio Tupi formando dupla com o comentarista Ruy Porto. Na Rádio Tupi Doalcei ainda criaria a figura do comentarista de arbitragem, lançando o ex arbitro Mario Vianna (aquele da frase “Gol Legal”) nessa função.
Enfim, havia muita gente preparada para o papel de locutor e de comentarista esportivo. Pessoas que deixaram muita saudade em muitos daqueles que viveramessa época.
Em Campinas tínhamos o Jolumá Brito, na PRC-9, Rádio educadora de Campinas. Mais tarde surgiram o Mário Pontes Melilo, com a Rádio Brasil apareceram o Sérgio José Salvucci e o Salvador Lombardi Neto.
Washington Luiz de Andrade na Rádio Cultura foi um grande narrador (ele falava mais ou ou menos assim: " Eu acho que não vai dar (nome do goleiro).....)".
Nas rádios de São Paulo muitas revelações apareceram na locução esportiva como Fiori Gigliotti, Haroldo Fernandes, Joseval Peixoto, Ênio Rodrigues, Flávio Araújo, Borghi Junior e Osmar Santos.
Mas toda vez que escrevermos ou falarmos sobre o futebol, não poderemos esquecer de mencionar Ari Barroso, flamenguista doente.
Quando o Flamengo fazia gols ele tocava sua gaitinha de boca. Pelo seu grande talento foi compositor, animador de programas e também locutor esportivo. Um dos grandes homens do rádio.