Professor, sempre o culpado
Professor, sempre o culpado
Outubro está começando... Sempre quando esse mês chega, vem com cheiro de festa, de alegria. A semana da criança movimenta o comércio e as escolas, todo mundo às voltas com a alegria da garotada, que aguardam, ansiosos seus dias de festa. Nessa euforia toda, um dia fica reservado para o professor. Merecidamente. Pelo menos, em um dia do ano, aquele que se desdobra nos outros 364 restantes, para resguardar o bem estar e o desenvolvimento de seus alunos, merece um dia de pompa, de reconhecimento, muito embora nem todos se deem conta disso. Mas para nós que vivemos ou já passamos pelos caminhos da educação, a data não passa em branco, e a gente tem uma vontade enorme de sair abraçando e dando forças aos colegas para continuar em frente, mantendo firme e digna essa profissão. Temos visto muita coisa acontecer nas escolas. Algumas extrapolam a nossa capacidade de imaginar o quanto o ser humano é capaz de surpreender com loucuras, como o caso de Realengo e recentemente, desse menino que atirou na professora e se matou em seguida, sem que ninguém encontre explicação ou as causas para tamanha barbaridade. A primeira suspeita sempre recai sobre o professor e os possíveis motivos para gerar tanto ódio. Mas o motivo não está mais focado nas pessoas, e sim no lugar. As escolas estão se tornando locais de violência, de tráfico, de tramas, de revolta. A energia positiva que antigamente havia dentro dessas paredes, onde havia a magia dos contos de fadas, a alegria da música, a poesia dos livros e o fascínio das artes, está morrendo. A escola está se tornando um lugar comum. Muitas vezes, um lugar que gera sofrimento, carregado de preconceito, conflitante nas diferenças sociais que se afloram com o bullyng e semeiam discórdia, despertam ódio e desejo de vingança. O ambiente quase que sagrado, que nos trazia tanto orgulho no passado, está perdendo a sua identidade institucional de valorização e crescimento do ser humano e se tornando apenas um ambiente comum, onde as pessoas simplesmente frequentam porque tem que frequentar, muitas vezes a contra gosto. E lá dentro, o símbolo dessa obrigação de permanência indesejada é o professor, aquele que transmite todos os dias, o discurso que muitos não querem ouvir, lições abstratas que nada significam para aqueles que não tem por ideal, ser alguém na vida. Ou que talvez queiram sim, crescer e muito, mas por outros caminhos, com outras lições que não as da escola. Não era esse o caso desse menino, mas é o de muitos, que servem de influência negativa e exemplos de violência para muitos, que veem a escola como castigo. E fomos nós que deixamos que ela fosse vista assim. Os tempos mudaram e as escolas perderam espaço na configuração do mundo, que está cheio de desafios e aventuras mais atrativas que ficar sentado num banco desconfortável, aprendendo coisas muitas vezes sem sentido ou aplicabilidade no cotidiano. E quem faz isso tudo é o professor. É ele o culpado de querer o bem para seus alunos, de exigir disciplina para que aprendam a se comportar no mundo, de ensinar valores e ética para conviver em sociedade e ensinar a dominar o conhecimento necessário para que todos sejam capazes de competir com igualdade nos campos de trabalho e ascensão social. Culpado de muitas vezes assumir o papel da família e se desdobrar em carinho e atenção, descobrir traumas e curar feridas, muitas vezes invisíveis aos olhos dos pais. Culpado de insistir numa profissão esquecida pelos administradores públicos e da rede privada, desvalorizada e muitas vezes penalizada, pela simples razão de ter como capital, o ser humano. Culpado por teimosia, porque muitos ainda são alimentados pelo idealismo de ver um dia a dignidade dessa profissão brotar no solo dessa mãe gentil, que é a nossa Pátria, mas cujos filhos ainda são muito ingratos para valorizar aqueles ensinaram o significado da independência, através da educação. São sim, os culpados. E continuem assim, carregando a culpa pelo progresso desse país. A pena é leve: 25 anos entre o amor e a dor.