Briga de galos

Briga de galos

Estava sem sono, altas horas da madrugada e na procura entre um canal e outro, uma luta de boxe me chamou atenção. O semblante de um dos pugilistas estava chocante, o sangue escorrendo com o suor no lado direito da face, onde havia um corte no supercílio. O semblante praticamente desfigurado pela agitação e violência da luta, assistida por uma platéia elitizada, onde provavelmente as apostas corriam alto. Como detesto violência, mudei logo o canal, mas busquei de volta. Observei bem os detalhes. Nunca havia parado para pensar sobre isso. Mas de repente, veio à minha mente como os homens são bárbaros e primitivos quando se trata de alguns esportes. Não perdem em nada para os animais. Se a gente reparar bem num galinheiro, vai ver que as coisas são bem parecidas com a formação dos nossos grupos sociais. Os pintinhos, tão logo nascem, saem atrás da galinha em busca do alimento, na maior gracinha, uns brincando com os outros. Mas basta algum se sentir em desvantagem que parte para a briga, abre as asas e cai de bico em cima do outro, não importa o tamanho. Cada um defende o seu pedaço, lutando com as forças que tem, precisando de uma ou outra bicada da mãe, para intervir na briga. Alguns, quando o sangue é mais quente, vão insistindo na disputa até não poder mais, só parando a briga quando um dos adversários vai ao chão, dominado pelo cansaço. Assim como os nossos jovens, galinhos na adolescência, crescendo a crista e enfrentando rivais, delimitando espaços através de gangs e grupos com ideologias étnicas e raciais, onde muitas vezes se enfrentam até a morte. Basta um pequeno atrito e já levantam as asas, prontos para o enfrentamento, como os pintinhos no galinheiro, no peito e na raça. E é aí que eu me lembrei do paradoxo entre homens e galos. No Brasil, como se sabe, a briga de galos é proibida. De vez em quando a gente vê a polícia invadindo territórios e destruindo rinhas, prendendo donos de galos e apreendendo animais , que segundo ela, são treinados para as brigas, um crime previsto em lei neste país. As rinhas, são ambientes construídos especialmente para essas brigas, um espaço cercado e acolchoado, onde numa arena central, os galos se enfrentam, enquanto as apostas rolam, e alguém, logicamente sai lucrando. Isso não pode. É crime. Mas lutar boxe, pode. Colocar dois seres humanos, um enfrentando o outro em cima de um ringue, e deixar que a violência de um recaia sobre o outro, até que um caia exaurido no chão, é legal. As apostas rolam, a platéia vibra e aplaude o campeão. Os galos brigam por um instinto aguçado pela ganância do homem, e os homens brigam pela sua ganância, aguçados pelo prazer de ver a violência estampada nas mãos de outros homens. Vai entender a natureza humana e seus argumentos para aplacar a violência. Para mim, dentro ou fora do ringue, um ser atacando o outro é no mínimo uma atitude animal, instintiva, coisas de galos... Só que os galos não podem.

maria do rosario bessas
Enviado por maria do rosario bessas em 28/09/2011
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