JÁ NÃO ESTRANHO

Não estranho que todos os levantes feitos para cessar a corrupção, ou pelo menos sua nefasta conseqüência social, encontre tanta resistência, isto quando não acaba aniquilando profissional e socialmente aqueles que tomam essa frente.

Não estranho. Juro. Confesso que não estranho, que não me surpreende que o assunto fique restrito a um ou outro abnegado. A alguns poucos jornalista ainda destemidos, alguns juízes em início de carreira, promotores recém saídos das universidades e alguns outros “gatos pingados” teimosos, renegados e altruístas tipo eu.

Veja que numa passeada gay, junta-se milhões de pessoas pelas ruas de São Paulo, do Rio. Até mesmo em Florianópolis, capital do meu estado, metrópole com menos de um milhão de pessoas, junta-se no passeio gay, centenas de milhares de pessoas.

Nas passeatas pela liberação da maconha, junta-se mais milhões. Nas manifestações religiosas, outros milhões. Qualquer tema bobo, minimalista, é capaz de congregar centenas, milhares de pessoas.

Mas na passeata pelo “não a corrupção” realizada no Rio de Janeiro, não se ultrapassou a 10/20 mil pessoas, numa vazia e frustrante manifestação, mesmo sendo o assunto do maior interesse, seja individual, coletivo, social, patriótico até.

Até porque somos todos um pouco corruptos. A corrupção está encalacrada no seio social, até mesmo no berço familiar. Veja que uma criança, na tenra idade, antes de aprender a ler, tende a aprender a corromper os pais. Faço isso se a mãe me der aquilo. Mesmo os pais já incitando seus filhos a serem corrompidos, ao afirmarem que se se comportarem assim ou assado, que ganham isso ou aquilo.

Então, o assunto é muito mais sério. As raízes desse câncer social estão enraizadas muito mais no fundo do que muitos de nós queremos crer. A corrupção se transformou num moderno meio, numa inescrupulosa ferramenta de sobrevivência e de massacre do mais esperto sobre o descente.

O ato de corromper e ser corrompido, é muito mais que essa simplicidade de acharmos que somente os políticos e os empresários praticam. Ela passa pela propina ao guarda, pela preferência ao amigo, por pedir uma forcinha ao parente da repartição pública.

Chego a pensar que a luta pela “não corrupção”, é um sonho colorido idêntico ao que sonhou Marx, quando idealizou o comunismo, pois, entendeu que o ser humano ainda seria capaz de partilhar igualitariamente as necessidades e que a ganância, a ambição desmedida poderia ser controlada.

Mas se o comunismo não vingou, pelas próprias condições humanas, deixou como legado o socialismo, árvore que vai frutificando e se espalhando mundo afora e abafando a sede do liberalismo capitalista, esse sim o monstro do canibalismo social.

Então, ainda me resta ao menos sonhar que as poucas pessoas que se atrevem a lutar e denunciar a corrupção, seja do estado, seja da comunidade em que participa, seja na família de que faz parte, terão sim o prazer de deixar um legado. Terão sim o prazer de ver o assunto tomando forma e se transformando em algo não tão atrevido, mas algo que pelo menos amenize a podridão da corrupção do meio político, inserido nos governos, nas mais diversas escalas.


Eacoelho
Enviado por Eacoelho em 28/09/2011
Reeditado em 07/10/2011
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