Brasil, o grande e sorridente bueiro filosófico.

Hoje acordei convicto: hora de escrever sobre o Brasil. É uma espécie de obrigatoriedade, um desencargo de consciência pra todo mundo que, assim como eu, gosta de colocar a cabeça no escorredor e deixar sair alguma coisa, é certo que um dia o país vai aparecer na pauta.

Escrever sobre o país é ótimo pra cabeça mas horrível pro currículo, é como um curso de violão, biscuit, boxe, pintura de guardanapo... maravilhoso para um domingo e péssimo pra moral, é impossível descrever mesmo com todo o sarcasmo da terra (que desconfio que esteja contido em cronistas baratos, tal qual este) um país onde há mais gente do que em um continente e mais opiniões do que um programa de auditório sobre casos de família. Falar sobre o Brasil sendo que você viveu em uma cidade só a vida toda, é meio típico de brasileiro, falar de brasileiro como se você não fosse um, é típico de escritor e escrever sobre as mazelas entre dentes sorridentes é típico e ponto.

Brasil é o país que cada vez mais as pessoas entram na faculdade e a cada ano a nota geral cai, é o país que subiu de renda e que mês que vem cai na conta aquele auxílio moradia, é o país do futebol quando não conta a Inglaterra. Brasil meus amigos, é o país da contradição.

Por aqui o número de tabagistas vem caindo ano a ano e eu acendo um cigarrinho pra imitar a tropicália, aliás, na época dos chatos da MPB é que se pensava neste país, se bem que eram chatos a ponto de atrofiar meus pensamentos, se bem que eu li só uma vez o livro de história que conta como essa galera pensava, mas meu cigarrinho me dá alguma coisa. Brasil é o país em que eu torci pra não servir o exército mas decorei as musiquinhas, acho que é por causa do meu pai, acho que é por causa do meu irmão, acho que é por causa das musiquinhas, acho que é por causa do patriotismo. Aliás, é bom ser patriota? negar a pátria e morar aonde? tem algum lugar sem pátria? O brasileiro é patriota, ou parte deles, a outra parte não, não é bom ser patriota, o que é bom são as musiquinhas do exército.

Brasil é terra de gente simpática, honesta que pratica pequenos golpinhos para não cair no ostracismo, na alemanice, pois lá naqueles países nórdicos eles não sorriem como nós, só montam carros, e que carros.

É terra de economia sólida e com boas reservas, onde ninguém faz a mínima idéia do que seja uma terra de economia sólida e com boas reservas, é um país que não sabe se tem o maior número de recursos naturais ou o maior número de gerentes de recursos humanos, ou gerentes natos de recursos a qual faltam um pouquinho de humanidade.

Aliás.

Esse país tem escritores demais, chegou a hora de escrevermos menos sobre ele.