CHATice
Rosa Pena
Em 2000, curiosa, entrei em um chat. Emoção, suspense, ansiedade, batimentos cardíacos a mil. Lembro como se fosse hoje. O primeiro chat, ninguém esquece.
Sala 6 da imédia, 40 anos. Entrei com o nick Florbela (a Espanca mesmo) e fiquei quietinha olhando. Vi que tinha gente enturmadíssima, habitué do local. Eu, na minha. De repente, um cara que intitulou-se "Louco 48" manda uma florzinha para mim no reservado. Retribui com um beijo que deveria ser reservado. Mas, como não sabia operar, foi em aberto. Pronto, apareci. E agora?, pensei eu... temerosa da exposição.
A conseqüência do beijo em aberto, para o Louco, foi a minha total enturmação na sala. Ele era o maestro daquela banda, o galo, o guru do local.
O passo seguinte foi conhecer diversas pessoas, e com duas horas na sala, ainda em aberto, já era amada por alguns e antipatizada por outros. Aquela velocidade da net, rainha das antíteses: amor x ódio.
Bem, minha aventura naquele dia rendeu-me versos novos, um certo tesão pelo Canalha (um cara que ficou perguntando no reservado se eu tinha pernas bonitas), um grilo com a tal Gardênia (indagou-me muito se eu era homem ou mulher), um número de telefone na agenda, seis novos endereços no catálogo, e-mails lindos que recebi e uma vontade imensa de voltar. Ali, prestaram atenção no que escrevi. Algumas abobrinhas, alguns versos soltos, repentes do momento. Lidos na hora, rebatidos no imediatismo que adoro.
Foi meu batismo de fogo no convívio virtual, pois, até então, só usava a net para pesquisas e buscas de poesias e músicas. Já começava a ver muito talento em poetas virtuais. Gostava de ver a poesia de terno e gravata vestida de jeans, a poesia da sala fechada falando de mar, a poesia saída dos espirais da fumaça do cigarro, o lirismo escondido do chefe, do marido, da esposa. Lirismo irresponsável. Poesia do século XXI. Sem lápis, sonorizada, com efeitos especiais.
Virei um peixe, fisgada pela REDE.
Em um curto espaço de tempo, acostumei-me àquela sala, às pessoas que ali desfilavam. Sabia o roteiro de cor, as lágrimas permanentes de alguns, o riso quase histérico de outros, a timidez, a sabedoria, a cautela, a audácia como a do Canalha (ai, Canalha, você nunca soube como eu gostava da sua indiscrição), a carência geral da galera, inclusive a minha.
Certamente meus companheiros e companheiras do chat também sabiam minhas ações e reações.
Então, comecei a achar a sala chata, tudo muito previsível, apesar de ter aprendido a gostar de muitos ali e saber que gostavam de mim. Era a mesmice. A danada da repetição. E um certo descaso de minha parte e dos outros comigo. Daí, entrei em outra sala, e depois em outra, e mais outra. Novidade, bendita novidade. Diversificava. Salas desfilavam, Florbela nelas. Ela, a Florbela, necessitava deste carinho.
De repente, em maio do mesmo ano, vi em um site que havia um grupo... Ora bolas, uma lista de poesias. Legal. O que eu queria. Fim dos chats. Entrei na tal lista. Que maravilha! Tudo lindo. Fui super bem recebida.
Eu, uma leitora discreta inicialmente, depois um membro atuante do grupo. Lia, comentava, formatava. Meus versos, guardados. Cadê coragem de apresentá-los? Fiquei seis meses só ali, naquele grupo (saudades dele).
E daí, aos poucos, percebi novamente que havia virado lugar-comum em termos de convivência. Em termos poéticos, não! O lirismo na net estava em um crescente, poetas espetaculares, para Drummond nenhum botar defeito.
Tomei coragem e postei meu primeiro poema. Assim, virei poeta. Escritora descarada e assumida. Tinha tanto a dizer.
Escrever virou um vício tão grande quanto ler. Junto a isso começou a proliferação de grupos, e eu entrando neles. Em busca dos meus poetas, em busca de novidades, em busca de ser lida. Será que queria ser conhecida? Acho que sim. Eta! vaidade humana!
E os sites me postando, e elogios abundando em minha caixa.
A leitora assídua, atenciosa... Ah!.. esta foi ficando de lado.
O tempo ficou curto para ler, escrever, comentar, elogiar, agradecer.
Puxa, cadê a Rosa nascida da Florbela? Cadê ela?
Acho que anda em web, nas diversas listas; e também decepcionando leitores, entristecendo escritores natos, perdendo sua essência em função da carência. Para piorar, anda ficando chata, vendo chatice em tantas coisas! E, se o chat era uma chatice, por que esta saudade do Louco 48?
Não está na hora de avivar em minha memória que sou responsável por aquilo que cativei? Certamente que sim.
Atrás da tela a pessoa que me leu, a que escreveu, que poetou, que formatou, quer tanto carinho quanto eu. Inevitável se torna fazer o balanço de minha atuação na vida virtual.
Afinal, estou lidando com corações reais, e estes não aceitam bem ficar em resumos ou em web.
Precisam do pvt.
Tanto eu , como você!
2003
livro: Eu & a Net
Rosa Pena
Em 2000, curiosa, entrei em um chat. Emoção, suspense, ansiedade, batimentos cardíacos a mil. Lembro como se fosse hoje. O primeiro chat, ninguém esquece.
Sala 6 da imédia, 40 anos. Entrei com o nick Florbela (a Espanca mesmo) e fiquei quietinha olhando. Vi que tinha gente enturmadíssima, habitué do local. Eu, na minha. De repente, um cara que intitulou-se "Louco 48" manda uma florzinha para mim no reservado. Retribui com um beijo que deveria ser reservado. Mas, como não sabia operar, foi em aberto. Pronto, apareci. E agora?, pensei eu... temerosa da exposição.
A conseqüência do beijo em aberto, para o Louco, foi a minha total enturmação na sala. Ele era o maestro daquela banda, o galo, o guru do local.
O passo seguinte foi conhecer diversas pessoas, e com duas horas na sala, ainda em aberto, já era amada por alguns e antipatizada por outros. Aquela velocidade da net, rainha das antíteses: amor x ódio.
Bem, minha aventura naquele dia rendeu-me versos novos, um certo tesão pelo Canalha (um cara que ficou perguntando no reservado se eu tinha pernas bonitas), um grilo com a tal Gardênia (indagou-me muito se eu era homem ou mulher), um número de telefone na agenda, seis novos endereços no catálogo, e-mails lindos que recebi e uma vontade imensa de voltar. Ali, prestaram atenção no que escrevi. Algumas abobrinhas, alguns versos soltos, repentes do momento. Lidos na hora, rebatidos no imediatismo que adoro.
Foi meu batismo de fogo no convívio virtual, pois, até então, só usava a net para pesquisas e buscas de poesias e músicas. Já começava a ver muito talento em poetas virtuais. Gostava de ver a poesia de terno e gravata vestida de jeans, a poesia da sala fechada falando de mar, a poesia saída dos espirais da fumaça do cigarro, o lirismo escondido do chefe, do marido, da esposa. Lirismo irresponsável. Poesia do século XXI. Sem lápis, sonorizada, com efeitos especiais.
Virei um peixe, fisgada pela REDE.
Em um curto espaço de tempo, acostumei-me àquela sala, às pessoas que ali desfilavam. Sabia o roteiro de cor, as lágrimas permanentes de alguns, o riso quase histérico de outros, a timidez, a sabedoria, a cautela, a audácia como a do Canalha (ai, Canalha, você nunca soube como eu gostava da sua indiscrição), a carência geral da galera, inclusive a minha.
Certamente meus companheiros e companheiras do chat também sabiam minhas ações e reações.
Então, comecei a achar a sala chata, tudo muito previsível, apesar de ter aprendido a gostar de muitos ali e saber que gostavam de mim. Era a mesmice. A danada da repetição. E um certo descaso de minha parte e dos outros comigo. Daí, entrei em outra sala, e depois em outra, e mais outra. Novidade, bendita novidade. Diversificava. Salas desfilavam, Florbela nelas. Ela, a Florbela, necessitava deste carinho.
De repente, em maio do mesmo ano, vi em um site que havia um grupo... Ora bolas, uma lista de poesias. Legal. O que eu queria. Fim dos chats. Entrei na tal lista. Que maravilha! Tudo lindo. Fui super bem recebida.
Eu, uma leitora discreta inicialmente, depois um membro atuante do grupo. Lia, comentava, formatava. Meus versos, guardados. Cadê coragem de apresentá-los? Fiquei seis meses só ali, naquele grupo (saudades dele).
E daí, aos poucos, percebi novamente que havia virado lugar-comum em termos de convivência. Em termos poéticos, não! O lirismo na net estava em um crescente, poetas espetaculares, para Drummond nenhum botar defeito.
Tomei coragem e postei meu primeiro poema. Assim, virei poeta. Escritora descarada e assumida. Tinha tanto a dizer.
Escrever virou um vício tão grande quanto ler. Junto a isso começou a proliferação de grupos, e eu entrando neles. Em busca dos meus poetas, em busca de novidades, em busca de ser lida. Será que queria ser conhecida? Acho que sim. Eta! vaidade humana!
E os sites me postando, e elogios abundando em minha caixa.
A leitora assídua, atenciosa... Ah!.. esta foi ficando de lado.
O tempo ficou curto para ler, escrever, comentar, elogiar, agradecer.
Puxa, cadê a Rosa nascida da Florbela? Cadê ela?
Acho que anda em web, nas diversas listas; e também decepcionando leitores, entristecendo escritores natos, perdendo sua essência em função da carência. Para piorar, anda ficando chata, vendo chatice em tantas coisas! E, se o chat era uma chatice, por que esta saudade do Louco 48?
Não está na hora de avivar em minha memória que sou responsável por aquilo que cativei? Certamente que sim.
Atrás da tela a pessoa que me leu, a que escreveu, que poetou, que formatou, quer tanto carinho quanto eu. Inevitável se torna fazer o balanço de minha atuação na vida virtual.
Afinal, estou lidando com corações reais, e estes não aceitam bem ficar em resumos ou em web.
Precisam do pvt.
Tanto eu , como você!
2003
livro: Eu & a Net