Aos 60
Não posso dizer que “agora sei o que fazer com a minha vida”. Depois de ter passado a fase das inseguranças de adolescente; de ter me surpreendido ao notar que já era pai aos 23; de ter mudado de empresa, de cidade; de estado... Depois de ter passado por desemprego, faculdade já maduro, de ir mudando os gostos pessoais... De ter aprendido a olhar com mais generosidade para uns assuntos e com menos paciência para outros e, ainda, entre outros aprendizados, perceber que vale a pena saber mais e que nunca será o bastante, concluí que ainda não sei o que fazer aos 60 anos.
Eu poderia ser mais exigente e, numa autocrítica, condenar a pasmaceira que vivo, entretanto essa atitude somente pioraria qualquer situação. A falta de perspectivas está ligada a uma motivação; a um ideal; a uma força mobilizadora que absorva coração e mente. Que dispare continuamente ações prazerosas a que muitos costumam chamar de felicidade. Porém não se trata apenas de “sentir-se bem”. Trata-se de ter motivos mais palpáveis para isso. Um misto de produtividade etária ou adequação digna considerando o tempo vivido. Quem me vê trabalhando, eventualmente pensa que há plena satisfação em relação a minha idade. São as relatividades culturais e suas avaliações proporcionais.
A razão de escrever sobre isso, além do prazer de escrever, é perscrutar afinidades, afinal nunca se está sozinho, seja qual for o pensamento.