como tentar voar
E ele se sentia preso. Não acreditava mais no que costumava acreditar e finalmente dava os créditos ao universo por ter conseguido provar que sua vida era, de fato, insignificante. Com conquistas irrisórias e nenhum pingo de esperança, estava prestes a desistir. Todos os dias se perguntava o propósito, o porque de tudo aquilo. Por que fazia o que fazia? Se já havia desistido de buscar sentido em suas ações, suas decisões e seus sonhos, não conseguia enxergar o ponto em perder seu tempo daquela forma. Vivia rodeado de pessoas, aparentemente preocupadas com seu bem-estar. Sabia que tudo aquilo não passava de uma mentira. Em todo caso, o que, além de um mínimo de respeito, ele podia exigir daquelas pessoas, que até pouco tempo atrás, eram desconhecidos para ele? De tempos em tempos fixava uma ideia na cabeça, de deixar tudo pra trás. Ir para um lugar onde as pessoas eram pessoas. Onde ele seria ouvido, seria considerado. Um lugar onde ele poderia ser ele mesmo. Sem medo, sem vergonha, sem dor. Sabia que não voltaria atrás. Mas não conseguia. Tentava, de todas as formas, se libertar de todos os preceitos morais que ele fora obrigado a acreditar. Não entendia porque somos obrigados a acreditar em tudo aquilo que vemos, por pior que seja a situação, e condicionados a desconfiar de tudo aquilo que gostamos, por melhor que seja o sentimento. E se perguntava quando trocamos a fé, ou menos a esperança, por ceticismo num mundo pior. Talvez ele não tentasse mudar sua vida por medo de finalmente conseguir. E perceber que, depois de tudo, nada realmente mudou.