1984

Num planeta mecânico, tanto faz ser do bem ou do mal.

Ser bom ou mau.

Quando se é jovem – e não se percebe se o mundo é metódico ou prático – há sempre a sensação de que a vida é maravilhosa.

Mas as pessoas crescem. Tornam-se dependentes, cínicas e intelectualizadas ao nível doentio.

A maturidade faz esquecer que a juventude premeditava um mundo diferente.

O mundo poderia, ainda, ter pássaros cantando nas árvores, flores colorindo os jardins e amigos ligando uns pros outros na madrugada para dar um alô.

Um planeta não-mecânico talvez permitisse que nos sonhos adormecidos pudéssemos, sem receio, cobiçar um espaço próprio, um caminho próprio, as escolhas próprias.

As controvérsias surgiriam na seara da escolha pelo melhor: uma democracia ruim, uma autocracia liberal demais ou uma ditadura besta?

Haveriam ainda os fiéis? Lembrando-se que neste novo mundo não-mecânico poder-se-ia criar tudo desde o início, como Deus fez.

Haveriam ainda os comunistas? os democratas? os sociólogos? os apaixonados? os doentes? os casados?

Haveria música num mundo ideal que você premeditasse? Ou existiram programas de computador que compunhariam as notas exatas e proféticas para qualquer circunstância? a música seria lógica?

Velariam-se os mortos? matariam-se os vivos? enforcariam-se os mártires e beatificariam-se os hereges?

Viver-se-ia uma fábula, um faz de conta, uma enganação, um mundo sem problemas e sem solução. Mais ou menos como este mundo mecânico, metódico e culto da modernidade.

Vencem os melhores. Se elegem os melhores. Enriquecem e vivem bem os melhores. Conquanto as oportunidades também surgem somente aos melhores.

E mesmo neste metódico e pródigo planeta Terra, não há receita para ser o melhor. Não há base nem cronograma de montagem dos melhores.

Até parece que existem melhores e piores, piores e quase bons, e assim por diante… num emaranhado darwinista que poderia nunca acabar ou acabar com os piores que nunca serão quase bons o bastate para serem os melhores e serem eleitos ou vencedores.

Um mundo perfeito permitiria o inacesso às estórias e à história? Um mundo ideal queimaria os jornais? incendiaria e bateria nos radicais? haveriam radicais? profissionais? interraciais? policiais?

Aos poucos concentrar-se-ia no que realmente importa. Tudo poderia ser melhor ou pior. Depende do que fizemos e pensamos.

Considerando-se este mundo um buraco negro, indubitavelmente, qualquer buraco claro já seria melhor.

Mas a considerar este mundo como o seu ou o meu, perfeito nas suas deficiências e ideal para as ambições pessoais e sociais, nada poderia ser melhor.

Ou melhor. Considerando que este mundo é maravilhoso, mas que ainda pode se tornar extraordinário, pela força de todas as pessoas, não há equívoco em dizer que fazer-se-ia um mundo cada vez melhor, sem revolução alguma, sem fogueira alguma…

(melhor compreendido após a leitura do livro 1984 de Orwell, o qual deve ser lido após a audição das músicas The Logical Song do Supertramp e a versão A Fábula de Humberto Gessinger)

(entendendo-se mesmo sem a leitura do livro e a audição das músicas, posso me considerar um gênio – o que de certo não é o caso)