Casas que se vingam
Existem lugares desolados, inóspitos mesmo, dentro de algumas casas. Quem não conhece alguma sala que nunca foi visitada, abandonada às moscas, ou um quarto onde ninguém permanece, transformado em depósito de velharias? Ou são meros lugares de passagem, ou nem isso. Quase sempre estão imersos em uma semi-existência, quase que fora do tempo. Se certos lugares não são lembrados, talvez seja porque nada, ou muito pouco, guarda relação com eles.
As casas, nesse ponto, são particularmente parecidas com seus donos. Quando não ocupamos todas as partes que nos constituem, podemos terminar esquecendo quem realmente somos. Ou nunca descobrindo.
É interessante que na tentativa de autoconhecer-se, as pessoas inconscientemente construam casas que as representem. Não seria por isso que a casa “própria” seja o sonho de felicidade da maioria? As casas, enfim, não são imunes aos seus donos. Costumam carregar tanto as virtudes, quanto os seus mesmos e idênticos defeitos. Afinal, como poderia ser de outro modo, se são reflexos imediatos de seus projetos, de suas vontades e desejos?
O fato é que existem casas que se vingam de seus donos quando não são ocupadas. Evitamos problemas sendo fiéis aos nossos princípios, assim como à alguns desejos, mas soluções definitivas não podem ser extraídas de clarabóias, pés-direitos duplos ou pisos de mármore travertino.