47,5 graus
Fúlvio Stefânio, 42, risonho, comunicativo entra na sauna e encontra dois rapazes e uma moça. Ela aparentando 28 e os rapazes 23 e 18. Ninguém se conhecia. Todos bem apessoados. A garota bonita. Fúlvio inicia a conversação. Logo todos estão rindo com as suas piadas. Os rapazes interagem com Fúlvio. A moça tem participação discreta. Mas sorri. A temperatura é de 47,5 graus.
Fúlvio e a garota saem para a ducha. A garota vai à piscina, ao lado da sala de descanso, e volta. Fúlvio está na espreguiçadeira. Pra surpresa dele, ela o chama pra sauna de novo. Talvez tivesse gostado de suas piadas. Ou os dois rapazes que continuavam lá dentro fossem seus colegas. Ele se levanta depressa, mas evita mostrar-se espantado pela oferta. Segue-a animadamente. O sorriso dela é discreto, mas animador.
Ao entrar na sauna, muito alegre, desequilibra-se no piso escorregadio e bate com a coluna num dos degraus. Não consegue se levantar. Percebendo a gravidade da situação, os rapazes acodem. Mas é a garota quem o leva pro hospital.
Conseqüência: semi-paraplégico. Quando voltam, decidem chamar um irmão dele, mais novo e casado, que começa a assumir o problema. Só que Constance, a garota da sauna, decide dar apoio.
Quando toma conhecimento de que Fúlvio morava sozinho, chega a pensar em visitá-lo com mais freqüência. Se necessário até ficaria na casa dele. Embora fosse normal que o irmão providenciasse alguém para esse apoio ao Fúlvio.
De qualquer modo, a partir do dia seguinte ela se torna cada vez mais presente na vida de Fúlvio.
Em função disso, Constance toma conhecimento de que Fúlvio é divorciado e dono de duas agências de turismo e câmbio e uma de propaganda. Ela não pode se abstrair da fatalidade de um acidente provocar a imobilidade de uma pessoa bem posicionada na vida. No entanto, é o estoicismo com que ele enfrenta o seu problema que a comove. Por outro lado, Fúlvio começa a pensar que ou o interesse dela pudesse ser o normal, isto é, viver com um cara rico ou era pena ou certo tipo de compensação por ele tê-la seguido naquele dia na sauna. Mas o que ele não sabia era que ela ia se afeiçoando cada vez mais pelo jeito dele. Constance morava sozinha. Fazia faculdade e trabalhava, mas podia dispor de algum tempo para situações como essa. Afinal não seria fácil o irmão de Fúlvio providenciar uma enfermeira ou acompanhante de uma hora para outra.
Já conhecendo o irmão de Fúlvio, Constance passa a conhecer a cunhada, a ex-esposa e o seu filho único, que não morava com ele. Depois de certo tempo, dada à proximidade e o entendimento cada vez mais sem problemas entre os dois, mais por insistência dele do que dela, Fúlvio e Constance decidem tornar efetiva aquela união. Dando início ao projeto de se casarem, ela ainda com reservas quanto à proposição.
Sabedora desses entendimentos, a ex-esposa tinha a certeza de que tudo era apenas interesse. Mas não dava muita importância já que a sua pensão vultosa estava garantida.
Pouco depois do casamento, e tendo em vista a situação do marido, Constance começa a se interessar mais por conhecimentos médicos. Realiza constantes pesquisas na internet focando o assunto células tronco. Viajam aos USA e lá, em caráter experimental, com a concordância de Fúlvio ante a insistência dela, ele é submetido a uma cirurgia. Não há cura total, mas as melhoras são flagrantes. Suas funções sexuais são praticamente restabelecidas e ele, depois de vários cuidados e prescrições médicas, consegue engravidar Constance.
A pensão à ex-mulher continua sendo paga, mesmo Fúlvio sabendo que ela já vive com outro. Constance não se mostra interessada no assunto porque acha que vive bem com o marido. Tanto que apesar de dispor de mais de uma empregada para cuidar dele, prefere ela mesma tê-lo a seu cuidado nas questões mais íntimas.
O filho nasce com Síndrome de Dawn, mas os pais consideram-no a coisa mais fofinha do mundo. Constance acha que é um milagre e Fúlvio fica todo feliz, apesar das sacanagens que faz consigo mesmo, chamando-se de pai de um chinesinho.