Cinco horas
Aconteceu que eu acordei no meio da noite, e não consegui voltar a dormir. Eram cinco horas da madrugada. Isso me fez lembrar de algumas madrugadas antigas, que passei quando ainda morava em São Bento do Sul. Houve uma noite, mais ou menos por essa mesma hora, que eu havia perdido o sono e resolvi levantar e olhar pela janela do meu quarto. Fiquei impressionado com a beleza do céu. Era justamente a hora em que ele estava começando a deixar de ser noite, mas ainda não havia se transformado em dia. Não lembro os detalhes desse céu, e nem quais eram as cores que ele me oferecia. Ficou, no entanto, a lembrança da sensação que ele me causou. E ela foi tão forte que, por várias vezes, eu levantei às cinco da madrugada sem necessidade alguma – apenas para vê-lo.
Nessa época, eu morava no terceiro andar. Havia uma boa visão lá de cima. Hoje em dia, não tenho mais nada disso: a janela do meu quarto dá para uma garagem, uma fechada garagem. De modo que eu não consigo mais olhar o céu às cinco horas da madrugada. Mas eu lembrei-me de que este era um céu bonito e, como tive certeza de que, mesmo que eu não o visse, ele ainda estava lá, eu resolvi usar meu celular para postar no Facebook que estava amanhecendo e o céu oferecia um espetáculo que ninguém via. Ora, Jaqueline ainda estava acordada, e resolveu ir conferir. Diz ela que estava realmente bonito. E ficou lá vendo. Às cinco da madrugada. Houve quem estivesse dormindo na hora, mas que depois se lembrou de já ter visto o céu desanoitecendo – e sentiu então forte saudade. E essa era justamente a noite em que caia um satélite sobre a terra, mas creio que isso não tenha tornado o céu mais bonito do que já é naturalmente.
Pois, feito isso, eu voltei a dormir. Depois acordei e fui viver o meu dia. E, pouco antes das cinco da tarde, eu estava na Praça da República, aqui em Brasília, encostado numa parede e observando as pessoas aproveitarem o sábado, sob patins e skates. O sol estava fraco, e aconteceu de uma nuvem cobri-lo totalmente. Estava realmente agradável. E então eu me lembrei que, além das cinco horas da madrugada, também as cinco horas da tarde costumam oferecer belos espetáculos. É quando o dia se prepara para ir embora. E ele vai perdendo as forças ao pouco, deixando uma pálida impressão. De repente, já não é mais absurdo sentar no banco de uma praça, sentindo a brisa de fim de tarde. Meu amigo Dom Canuto gosta do sol, o sol quente dos calangos de Brasília. Eu, branco que sou, prefiro o sol tranquilo das cinco horas da tarde. E eu ficaria mais tempo sentado ali, apenas observando o dia avançar, caso eu não soubesse que as cinco horas logo viram seis, e então anoitece e é preciso ir embora. Tento, apesar disso, aproveitar esta hora ao máximo, e consigo então amar as pessoas mais profundamente, e isso me deixa tão relaxado que – Santo Deus! – consigo até cochilar no ônibus que me leva de volta para casa. Às cinco horas da tarde.