Praças e coisas assim

Direis, o que sinto falta de Curitiba? Hoje, eu me lembro especialmente das praças. Em poucas quadras, eu consigo ir da Praça Santos Andrade até a Praça Osório, e depois até a Praça Rui Barbosa. Para voltar, posso passar pela Praça Carlos Gomes – tudo isso sem sair do coração de Curitiba. Nos bairros, há outras tantas mais. Há, na verdade, mais praças em Curitiba do que na Segunda Guerra. A maior parte delas, com tudo que uma praça tem direito: ou seja, árvores, grama, pássaros, bancos, e às vezes algum chafariz. De vez em quando, eu sentava no banco de alguma delas e ficava à toa, geralmente pensando em como escrever sobre as coisas que estava vendo. As pessoas caminhando apressadas, as madames conduzindo seus cachorros, os namorados sentados, os pipoqueiros, os mendigos, os pombos ousados. E as estátuas – não posso me esquecer delas. Praça que é praça tem pelo menos uma estátua ou um monumento, e que geralmente ninguém sabe de quem ou por conta do quê. Eu gosto das praças, afinal.

E ando sentindo a ausência delas aqui em Brasília – pelo menos na região do Plano Piloto. A primeira praça que conheci por aqui foi aquela que existe em frente ao Palácio do Buriti. Mas tenho a impressão de que alguma coisa deu errado no planejamento da obra. Existe, é verdade, um lago enorme, e muitas vezes dele jorram diversos chafarizes, o que sem dúvida é muito bonito e digno de uma boa praça. Diante desse cenário, a pessoa normalmente tem o impulso de sentar e simplesmente relaxar. Nesta praça, no entanto, a pessoa não conseguirá fazer isso sem torrar a pele. Existem bancos de concreto enormes, mas eles foram colocados estrategicamente no meio do nada, para que o sol atingisse em cheio qualquer um que tivesse a péssima ideia de neles sentar. Não que não existam árvores. Elas existem, e estão logo adiante, mas distante, totalmente, de qualquer possibilidade de assento. De modo que não se consegue ficar muito tempo nessa praça, que, além de tudo, está sempre vazia, sem movimento algum a ser observado senão o dos carros que passam ruidosamente logo ao lado.

Sei que logo adiante existe a Praça do Cruzeiro, na qual nunca me detive, mas que só de observar já pude constatar que sofre dos mesmos problemas – com a agravante de não ter chafarizes. E, pelo que me lembre, tampouco estátuas cobertas de pombos enxeridos. Em contrapartida, dizem que o pôr-do-sol de lá é lindo. Os problemas são os malandros da noite, mas isto acontece em todas as praças, incluindo as de Curitiba.

Recentemente, foi inaugurada a fonte na Torre da TV. Ao redor dela, constituiu-se o que pode se chamar de praça. Mas também ali ninguém escapa do sol – e, em Brasília, seria fundamental escapar do sol. As águas formam um belo espetáculo, e há sempre bom movimento por lá. Houvesse sombra e seria realmente um lugar perfeito. É talvez o único lugar da cidade em que é possível sentir realmente frio, quando anoitece.

Mas provavelmente ando reclamando de barriga cheia. Aí está o Parque da Cidade, que é praticamente ao lado do meu trabalho. Lá posso encontrar tanta sombra quanto gostaria. Posso me sentar embaixo de uma árvore e, se quiser, posso inclusive rolar na grama. Verdadeiramente, ando precisando de coisas assim. Apenas não queria ir até lá sozinho. Disso se conclui que o problema não é apenas a falta de praças.

Henrique Fendrich
Enviado por Henrique Fendrich em 26/09/2011
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