Sem saber

Porque não aproveitamos nossos pais, enquanto ainda os são?

Crescemos amando-os incondicionalmente, mas sabemos os valorizar?

Nossos pais nos cuidam, nos protegem.

Nos ensinam as palavras, os valores.

Mas esquecem de nos ensinar os tropeços do tempo,

porque nem mesmo eles sabem quanto tempo ainda tem.

A vida passa, o tempo não nos pertence e mal sabemos o que nos espera.

Um belo dia, notamos que trabalhamos mais do que gostaríamos e talvez até mais do que deveríamos.

Não temos tempo para quase nada, sabemos dos nossos pais pelas rápidas ligações que podemos fazer.

Muitas vezes eles querem conversar, nos contar sobre algo corriqueiro, mas quem disse que teremos tempo de ouvi-los?

Pedimos desculpa e vamos logo desligando o telefone, os relatórios e reuniões com o chefe são mais importantes agora.

Nos esquecemos das muitas vezes na infância em que chamávamos nossos pais de noite, quando tinham de acordar bem cedo pela manhã, para dizer que estávamos com medo.

Ou que tínhamos esquecido de comprar o material para aula do dia seguinte.

E como num passe de mágica, nossos guerreiros esqueciam o cansaço e davam um jeito de resolver tudo, sempre!

Será então que somos filhos ingratos?

Ou será que somos apenas os mesmos filhos que nossos pais já foram, e que um dia serão pais esquecidos pela correria do dia a dia?

Talvez devêssemos parar um minuto e pensar nos sacrifícios, nas noites mal dormidas, nas festas deixadas de lado e só pensar no que eles estão precisando agora.

Nossos pais, nossos heróis, eles não merecem nem um pouco do tempo que julgamos tão precioso?

Eles não nos cobram, não nos pedem quase nada. E mesmo assim não sabemos agradá-los.

Amanhã eles serão nossos filhos de novo, talvez seja o Alzheimer ou as demências da velhice.

Mas seus corpos já não vão aguentar o mesmo peso do dia a dia, muito menos sua cabeça funcionará como antes.

Teremos de cuidá-los como filhos!

Já não poderão nos aconselhar, nem mesmo nos repreender quando estivermos errados.

Não poderão pois quem o fará seremos nós, com eles mesmos, quando derramarem o arroz sob o colo por não terem mais direção ou não souberem tomar banho sozinhos.

Acharemos então muito triste, quando chegarmos sorrindo e aquele pobre pai não nos reconhecer.

Será então a vida tão injusta?

Ou será que o tempo é culpado de tudo?

Perguntas como essas ficarão sem respostas.

Nós ficaremos sem nossos heróis.

Seremos também os heróis de alguém e depois seus próprios filhos.

O ciclo da vida continuará existindo, basta saber como faremos para aproveitá-lo.

Alice Fialho
Enviado por Alice Fialho em 26/09/2011
Código do texto: T3241402
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