Mas será possível!

Uma exclamação que uso frequentemente quando me sinto cansada e principalmente agitada -“Mamma sei molto agitata oggi!”Diz Francesco.

Por mim mesma: Estressada,sim estressada após horas tentando arrumar a bagunça rotineira aqui em casa e percebendo a minha materna impotência diante do visível caos que insisto em não querer aceitar.Uma ajudante que recebemos pra faxina semanal não basta.

 Exemplo concreto: Canetas,lápis,canetinha-um mistério inexplicável!Compramos periodicamente no supermercado,mas por incrível que possa parecer se estou no telefone e precisando tomar nota rapidamente, quem disse que tem alguma coisa por perto que sirva para escrever?-”Caneta,lápis por favor!”Grito.Eles brincando estão,brincando continuam entretidos no jogo.Depois do terceiro grito ele levanta o olhar e diz tranquilamente:-”Não tem nenhuma caneta!”Insisto que imediatamente procurem e,detalhe, com a mão tentando abafar a voz transformada a fim de que o interlocutor não perceba do outro lado da linha meu abalo nervoso.Quando me vem aquele tom, em geral,um deles se lamentando encontra pelo chão,debaixo do sofá,ou mesmo na gaveta dos talheres no armário da cozinha(sim já aconteceu uma vez) uma caneta com a tampa mordida( última mania da Chiara) e me entrega com muita má vontade. Seguro a caneta e pretendo escrever,mas dela não sai sequer um pingo de tinta.-“Não escreve!”Berro.Uma cena comum e que tem se repetido na nossa rotina.

Onde foram parar todos os lápis,canetas,canetinhas,é uma questão para além dos confins da paranormalidade tanto para dizer mais uma sandice nesse meu desabafo.

Papà enfatiza a idéia de que casa com criança é assim mesmo.Minha mãe repete sempre que seus netinhos são 'dois anjinhos muito ativos e que isto é sinal de saúde'.Passando férias conosco ano passado,até deixou uma mensagem fixada na parede do quarto deles(Registrei aqui).-"A gente se acostuma, se conforma". Diz uma amiga italiana, mãe de dois adolescentes e uma menininha da idade de Francesco,com quem gosto muito de conversar. Ouví-la contar dos sapatos e mochilas largados já na entrada da casa,do creme dental aberto e petrificado,das marcas d’água no espelho do banheiro ,e tantas outras coisas ,me faz sentir um momentâneo alívio dos pequenos distúrbios domésticos com os meus. Outra amiga,a Edna, há algum tempo quando falávamos por telefone e eu me lamentava desse caos organizado daqui,me dizia mais ou menos assim...’Essa bagunça é sinal de que sua casa é viva!’

Quanto às canetas,tive que esconder um estojo de emergência num lugar que não digo agora porque eles podem escutar! E,ao fazer isto me veio em mente uma vaga lembrança de infância da voz de meu pai em decibéis nos meus ouvidos:”Será possível que nessa casa nunca se ache uma danada caneta ha hora que serve?”

Talvez é algo parecido com a ocupação de um território,divago pensando que seja isso,uma daquelas questões de ancestralidade contra as quais não se possa fugir.

Sim,vagamente lembro de ter visto em um documentário sobre uma tribu de macacos que se comportam assim procurando marcar o próprio terreno de ocupação.

Crescendo se aprende a colocar cada coisa no seu devido lugar.Talvez daqui a alguns anos terei o prazer de ver minhas canetas harmoniosamente dispostas num estojo na escrivaninha e tudo mais em perfeita ordem.A dúvida inconfessável porém,é se será triste essa ordem,os móveis sem as vivas impressões digitais de dois filhos que enchem nossa casa de vida e e energia!

Bergilde
Enviado por Bergilde em 26/09/2011
Código do texto: T3241216
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