A BARATA DA MINHA ESTANTE
A BARATA DA MINHA ESTANTE
Paulo de B. Marcial Neto
A primeira vez que tomei nas minhas mãos o livro “A Metamorfose”, de Franz Kafka, fui fisgado por dois anzóis: pelo título da obra, e pelo estranho nome do autor.
O primeiro gancho do anzol, o título “A Metamorfose”, trouxe de pronto à minha cabeça o significado da palavra, que é a transformação de uma forma ou de uma estrutura viva, em outra completamente diferente. É o caso da lagarta que se transforma em borboleta, ou da larva que um dia vira o mosquito da dengue, por exemplo.
O segundo gancho do anzol, o nome do escritor Franz Kafka, lembrou-me de um prato do Oriente Médio, chamado kafta. Se fosse hoje, eu seria igualmente fisgado ao associar o seu nome a uma conhecida rede de lojas brasileiras que vende café expresso e outros gostosos complementos gastronômicos.
Mas voltemos ao assunto principal, retomemos o fio da meada! Este pobre peixe fisgado afirma que o primeiro gancho foi o mais certeiro, pois nas primeiras páginas do livro é narrada a triste estória de uma extraordinária metamorfose, de um homem comum que acorda certa manhã e constata a sua própria transformação, sua metamorfose, numa nojenta barata. A narrativa fantástica prossegue cada vez mais interessante, quando passa a abordar as relações familiares do metamorfoseado, o sentimento dele ser rejeitado devido à sua nova e miserável condição, até mesmo pelos seus entes próximos. Assim, não é por outro motivo que após a leitura desse Clássico da Literatura Universal, passei a entender o significado do que é estar numa situação kafkiana.
Ah! O segundo gancho do anzol, na verdade, era um engodo! Mostrou-se falso, uma vez que Franz Kafka não era de origem árabe, nem dono de café. Ele era tcheco.