A Gran Finale - Capítulo 2

A fita gravada há 29 anos, reproduzia agora as imagens e os sons da primeira vez em que eu havia visto um ato tão cruel.

Em toda a minha vida, eu jamais havia visto tanto sofrimento no rosto de uma pessoa, tanta agonia misturada com desprezo e raiva.

O sangue que fluía livremente para fora das veias e que aos poucos escorria pelos pés da mesa, era de minha mãe, e o homem que manejava a faca com destreza e habilidade, como se fosse um profissional, e que no caso era, pois essa não era a sua primeira vez, ele era o meu pai.

E eu? Eu estava presente naquele momento, contra a minha vontade, mas presente. Apenas eu na platéia, como meu pai costumava dizer, já que ele gostava de se apresentar.

Apenas eu na platéia... Eu e os "amigos" de meu pai, que assim como Leila, estavam sentados, exalando um odor fétido de formol, e que ironicamente, não se retorciam a ver o show de horrores.

Eram sete na platéia, enfileirados na horizontal, a minha esquerda havia um homem que usava uma cartola estranha, seu rosto não me era desconhecido, já o havia visto muitas vezes cobrando altos valores de meu pai, que o mesmo não tinha fundos para pagar. A minha direita, uma mulher simples, uma vizinha que havia brigado com meu pai, uma briga que infelizmente, resultou em sua morte.

Apoiado em um tripé estava a câmera que meu pai usou e narrou várias de suas apresentações, mas esta, era a primeira que eu estava vendo, e aquilo, me enojava.

Abrindo a mala, com um sorriso que ia praticamente de uma orelha a outra, meu pai tirou o cortador elétrico, o instrumento que ele mais gostava, a Gran Finale, como ele insistia em me dizer.

Não! Eu não poderia mais ficar ali, aquilo me fazia mal, ver a pessoa que sempre me amou, ser torturada sobre uma mesa, sangrando até a morte por um porco bêbado me deixava nervoso. Levantei-me e caminhei para porta.

- Faça isso! Vamos! Vá embora! Terei o prazer de enfiar uma agulha debaixo de sua unha e ver você chorar! Para depois, usar a Gran Finale.

O rosto de meu pai ocupava a tela da televisão inteira, até hoje o seu olhar me provocava medo, até hoje, eu sentia medo dele.

Meus atos ainda eram amadores, minha experiência era pouca, apenas duas vezes, sem nenhuma gravação, em dois meses.

Há exatos três meses atrás, eu havia feito uma denuncia anônima pelo assassinato de minha mãe, ocasionando assim a prisão de meu pai, ainda com falta de provas. Ele era muito cuidadoso com seus atos, um verdadeiro profissional, a polícia havia encontrado a sua arma de execução final, que deixava cortes únicos nas vitimas. A arma a qual ele chamava de Gran Finale, e que a polícia já sabia.

Ele não sabia quem o havia denunciado, mas durante sua estadia na cadeia, ele conseguiu deduzir e descobrir que havia sido, apenas ele e mais uma pessoa sabia o nome da arma apresentada pelos policiais.

E agora eu estava com medo, faziam-se menos de duas horas que eu havia visitado o meu pai na penitenciária, o mesmo olhou em meus olhos, me fitou por longos segundo, e me olhando com raiva e ironia com os seus olhos negros, os mesmos que me transmitiam medo e pronunciou as palavras, que eu jamais irei esquecer:

- Filho! Obrigado... Aqui terei mais tempo para poder pensar em como usar a Gran Finale em você...

(Próximo - Capitulo 3 - de ( 25/09 à 02/10) Aguardem )

Publicações prévias em: http://thewriter14.blogspot.com/

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Abração!

Gabriel Soares
Enviado por Gabriel Soares em 25/09/2011
Reeditado em 09/10/2011
Código do texto: T3240028
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