Zói não tem cerca
Seu Aliço é um dos muitos amigos lá da Secretaria. Cidade interiorana tem dessas coisas. Muita gente procura os órgãos públicos não atrás dos serviços prestados, mas de um cafezinho, de um bom dia e de uma prosinha rápida.
Nosso amigo em questão é um senhor de mais ou menos uns 70 anos que mora nas imediações do meu trabalho. Adora nos visitar. Dia que ele não aparece, pode-se saber que está doente. É mais assíduo lá, do que muitos contratados.
Sempre me encontro com a esposa dele na igreja, mas nunca o vi por lá. No domingo, me sentei perto dela e perguntei pelo marido. Ela disse que vai à missa religiosamente, mas ele sempre que consegue, dá um jeito de escapar, inventa um monte de desculpas e diz que prefere rezar em casa.
Na segunda-feira, no trabalho, a primeira cara que vejo é a de Seu Aliço, atrás da prosa e do café. Não resisti e perguntei o porquê dele nunca acompanhar a mulher na missa, olha só a resposta:
“Na igreja, minha fia, sempre tem umas distração que faz eu pecá ao invés de rezá. Bem que eu tento firmá o pensamento no sermão, mas ocê sabe, né... Tento muito por sentido nas palavra do padre. O zuvido até escuta, mais o zói... Esse num tem cerca, minha fia! Pra ficá lá pecano, cobiçano coisa dos outro, é mió ficá em casa memo.”
Disse isso da forma mais espontânea possível e foi para o cafezinho. Passamos o resto do dia nos lembrando da expressão e rindo!
Pessoas assim, com certeza fazem nossos dias melhores!
Dedico este texto aos muitos que nos visitam no trabalho, e também aos que me visitam aqui, pois de certa forma, os comentários, tanto lá quanto aqui me engrandecem, e me inspiram ! Um grande abraço!