A BALANÇA

Saí para dar uma corrida, naquela inglória e inútil (inútil, sim; por mais que nos esforcemos, sempre vamos perder) batalha contra os efeitos do tempo sobre meu corpo. Quanto aos cabelos que se foram há tempos, não posso fazer mais anda; mas me recuso terminantemente a aceitar estes quilinhos a mais na cintura...

Na volta, parei numa farmácia. Queria saber quantas irrelevantes gramas haviam sido consumidas em uma hora de esforço.

A balança estava ocupada; um cidadão bem gordo olhava para o número indicado pelo implacável aparelho. Parecia atônito; não acreditava no que via, ou não aceitava o número. Não, meu caro, a balança não mente. Nem tem piedade. O gordinho desceu. Avancei um pouco, achando que minha vez tinha chegado. Engano; o gordinho ainda olhava para o mostrador, indeciso. Parecia refletir. Ao seu lado, sacolas de uma deliciosa padaria. Várias sacolas. Um pouco impaciente, aguardei a decisão do rapaz. Ele meteu a mão no bolso. Retirou umas poucas moedas. Ficou olhando para elas por um instante. Decidiu-se: colocou as moedas no chão, ao lado das sacolas. Voltou para a balança. Isso ainda pode demorar um bocado, pensei.

Desisti de saber meu peso naquele dia. Sabe-se lá o que mais poderia estar pesando no bolso e na consciência daquele rapaz...