Violência no ensino

A Presidente Dilma Roussef

Há uma grande violência instalada no processo educacional. Violência subjetiva das escolas sem alma. O que é uma escola sem alma? Uma escola sem alma é uma escola que prepara currículos e forma vaidosos para o grande mercado de trabalho competitivo. É a escola que sempre aceitou lançar na lixeira uma multidão de brasileiros. Lixeira composta de homens inadaptados aos critérios forçados e distantes. Uma escola sem alma é uma escola que jamais respeitará a vocação inata de seus alunos. É a escola que transforma conhecimento e inteligência num jogo sujo de pesadas provações. Se contentando em dar prestígio a muitos que apenas empregaram artimanhas para burlar suas exigências com maior eficácia que os demais. O que temos é o professor braçal para o aluno braçal. Um ambiente onde nada será reconhecido na esfera subjetiva e a própria subjetividade será considerada uma faculdade ridícula.

Sempre desejei manifestar minha repugnância por esse ensino tecnocrático, por esta submissão da educação ao mundo político-partidário. Tremendamente violento, pois os professores são contratados de acordo com as legendas, muitas vezes mal preparados acumulando cargos de grande importância. Raramente contratados pelas suas qualidades. Esse tarefismo eleitoreiro resulta numa dinâmica viciada e simplória com efeito devastador. Descambam em professores de carreira que perdem o moral elevado diante das próteses inseridas no processo. Então o desinteresse aliado ao cansaço elege a passividade mecânica da dinâmica como sintoma determinante da ausência de sentido profissional. É o feijão com arroz para o trabalho e vice versa. O professor se transforma num profissional frio, sem expectativas, incapaz de reinvidicar até o que é seu por direito. (A Llicença Prêmio é um exemplo disso: Os professores aceitam que o gabinete político decida passar por cima do pedido de substituição porque cada qual possui uma jornada isolada. Na hora da Licença Prêmio não sabem reinvidicar a própria substituição que é mal vista e até confundida com insalubridade). É uma humilhação receber informações sobre um direito desreipeitado com as seguintes palavras: não temos professores para subtituição, explicando que a Secretaria da Educação “não sabe remanejar os quadros funcionais”, não possui métodos práticos para gerenciamento desta questão. É a esfera pública incompetente, irresponsável e desorganizada. Eis um momento de grande violência na educação.

O caminho para uma sala de aula deveria ser um momento de grande alegria. Ocorre que dentro das salas de aula se estabelece obrigações sem contexto real por mais Paulo Freire que o diga. O acúmulo de tarefas mentais é repassado até que o aluno comece a se sentir doente, cansado. Há casos de pessoas que adoeceram graças ao entupimento de leituras e tarefas extenuantes em diversos níveis. Tudo para comparar o esforço mental ao suor obreiro, reparando assim o complexo de inferioridade entre a força da inteligência e a tarefa de governar o mundo confortavelmente. O conforto é inadmissível numa escola. A estrutura material é relegada ao fracasso.

A escola possui um grande complexo de inferioridade. Afasta-se dos primados que professa e utiliza bem pouco os próprios conhecimentos que tentam incutir nas suas vitimas. Vive a realidade de fábrica e fabrica apostadores concorrentes na dança das cadeiras dos mais espertos. Assusta com seu olhar tremendo os que perderão o direito de conquistar o mundo dentro do famigerado ambiente seletivo, discriminatório e, sobretudo desestruturador. Essa violência sem indenização (Sic) pelo tempo perdido recai apenas nos alunos. Afetarão irreversívelmente os homens. Seria demasiado sonhar com ambientes escolares equilibrados com direito ao aprendizado da alimentação, com recurso hospitalar, odontológico, oftamológico, enfim. Com espaços de lazer e harmonia a ponto de se gostar da escola. Sentindo o ambiente democrático com o sentimento positivo das descobertas. Espaço para construção de uma nação forte. Sobretudo a inserção da psicanálise dentro do processo educacional, da diplomacia, do uso da retórica, da humanidade e todos os elementos para um convívio produtivo.

Temos a velha noção imbecil de que devemos sustentar com sangue os estudos, nunca perceber o devido por parte do governo para os estudos. Isto nos torna ainda mais miseráveis cidadãos vivendo num país rico, nababesco de petróleo e inextinguíveis riquezas minerais. País das grandes rendas do futebol, do carnaval e das loterias. Onde está a loteria que sustenta a educação dos teus filhos pobres? O resultado é a sensação de tempo inútil diplomado. De vitória egocêntrica ou preparada. Sustentação de uma classe política que segue aviltando o país com seus desastrosos sistemas de corrupção. Eis a violência nas escolas porque ninguém mais do que os jovens estão expostos ao reconhecimento sensível de todas estas questões contraditórias.

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Tércio Ricardo Kneip
Enviado por Tércio Ricardo Kneip em 23/09/2011
Reeditado em 24/09/2011
Código do texto: T3237226
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