Assuntos de barbearia
Ao passar por uma galeria comercial, julgando que já havia muito tempo que não cortava o cabelo, resolvi que seria aquela a hora definitiva de entrar numa barbearia, conhecida de longa data, quando avistei um conhecido oferecendo-me então sua cadeira de trabalho, como se fosse um trono, após um aperto de mão. Depois de anos tendo meu cabelo cortado por diferentes profissionais, me parece que essa é uma etapa muito comum nesse ramo, quase uma regra, podendo variar da boa vontade de quem faz o serviço.
Porém, há outras passagens no ritual de se ter o cabelo cortado, incluindo as conversas sobre qualquer assunto que seja julgado como de interesse público. Quando não há filosofia ou opiniões relacionadas, são geradas piadas, algumas similares às de boteco. Tal semelhança talvez explique a tradição das “grujas”.
Vale ressaltar também a importância dada à atualidade do acervo disponibilizado no local aos seus consumidores - fator de abundante relevância -, que engloba de jornais diversos a revistas com conteúdo mais interessante, contendo belas paisagens que geram grande admiração a qualquer ser do gênero masculino, principalmente quanto às de natureza ímpar, realmente impressionante, que só teríamos chances de ver em casos especiais, como desfiles de Escolas de Samba ou programas de TV.
Automaticamente me entregando uma dessas revistas para passar o tempo (muito interessante, por sinal), o sujeito me perguntou:
- Máquina 2 ou 3?
E teve como resposta:
- 3, por favor! É que com a 2, o cabelo fica muito curto...
Durante o corte, fiquei preocupado em analisar o conteúdo do que estava em minhas mãos e, ao mesmo tempo, botar a cabeça na posição certa para que o camarada conseguisse fazer uns acertos que exigiam pouco movimento.
Hora ou outra, me faziam perguntas relacionadas ao cotidiano, gerando sempre uma espécie de mesa redonda em torno de um mesmo assunto, com discussões das mais diversas, com toques de pessoais a críticos ou nostálgicos, mas nunca perdendo o humor.