Revolta pelos animais
"Gosto de olhar os meus gatos, eles me acalmam. Eles me fazem sentir bem. Você sabia que os gatos dormem 20 das 24 horas do dia? Não se admira que tenham melhor aparência do que eu. Na minha próxima vida, quero ser um gato. Dormir 20 horas por dia e esperar ser alimentado. Sentar por aí lambendo meu "rabo". Os humanos são desgraçados demais, irados demais, obcecados demais". - Bukowski.
Desde o mitológico Ìcaro que o desejo do homem por experimentar a vida na pele, ou, neste caso, na pena, de um animal se mostra de benefício duvidoso... E nem é preciso voar até o sol para entender o porquê. Basta observar o quão difícil é a vida dos bichanos mais próximos a nós, os pobres domesticados - é um excesso de deveres e uma ausência de direitos sem tamanho:
Animais não têm direito a nascer. Animais não têm direito a andar nas ruas, a procriar, a emitir qualquer som, a brincar com crianças menores que eles, a se aproximar à 100 metros de uma grávida, a aposentadoria por idade ou tempo de serviço, a um lugar decente para morrer. Animais não têm direito a coisa alguma!
Ao menos, não, segundo a representatividade da opinião pública, - aquela que faz com que as coisas aconteçam ou deixem de acontecer- ou seja, os representantes legais da população. Por direito, os animais - domesticados ou não - tem algumas leis que os protegem, sim. Deveriam ter mais, mas, nem as poucas são respeitadas - uma questão de cidadania, a nossa. Pena ser a política dos irracionais ainda menos organizada que a nossa - por mais difícil que isso pareça - ao ponto de os impedir de eleger um porta-voz que defenda seus direitos de maneira inteligível. Cabe(-ria) a nós a luta deles. Porém, nessas horas, sempre surge um ser esclarecido a questionar qualquer iniciativa que leve em conta os não-racionais, diminuindo a viabilidade dessa por comparção a todas as carências "mais importantes" da população humana.
Como resultado, quaisquer animais tornam-se presas fáceis na selva urbana em que, por azar, acabaram inseridos...Sendo ridicularizados com roupinhas e nomes patéticos, sendo explorados e submetidos a trabalhos nada voluntários, sendo negociados como mercadoria, morta ou viva, em mercados de todo o tipo. Mas, basta mencionar lhes assegurar algum direito para fazer gente bufar - sim, nesse caso, gente bufa - gato mia, cachorro late, pássaro pia, cavalo relincha, boi muge... e, assim, se faz muito barulho por nada.
Na hora de brincar com o cãozinho que serviu de presente para o netinho mimado, todo mundo gosta de animais, mas na hora em que este morre, basta jogar-lhe no lixo, orgânico, de preferência - não que a educação popular permita a percepção de alguma diferença. É de arrepiar os pelos dos que são sensíveis a causa.
Pena mesmo os bichos não serem organizados ao ponto de fazer greve ou revolução, à lá Gerge Orwel, ou ao menos assitir - e entender- a TV Câmara de sua cidade [e alguém assiste? sim. E alguém entende?], para ver o que seus queridos bípedes confabulam na sua ausência. Mas, eles não podem...
Estão ocupados demais abanando seus rabinhos, andando na fila do abate ou puxando uma carroça para um humano qualquer.
*Crônica publicada no caderno Mulher Interativa, do jornal Agora [Rio Grande, RS], em setembro de 2011.