Coisas que contam histórias
Hoje cedo, enquanto estava numa sala de espera, sem ter algum livro em mãos nem alguém pra conversar (boas formas de fazer o tempo andar), aproveitei para fazer uma faxina nas mensagens do meu celular.
Vasculhei as da caixa de entrada, apagando várias inúteis. Depois, vi as mensagens enviadas e preferi manter muitas delas. Então fiz uma descoberta nesses torpedos, mensagens curtas que enviamos em meio aos nossos vários afazeres, sem tempo para escrever longas missivas ou sem dinheiro para fazer uma boa chamada telefônica. Na urgência e necessidade, torpedeamos nossos amigos e amores para dar recados, transmitir beijos e abraços, tranquilizar corações.
A minha descoberta foi que essas pequenas mensagens contam uma história. Elas são o registro de muita coisa que vivemos e que sentimos. Detalhes antigos que até havíamos esquecido. Elas podem até ser usadas como provas, testemunho.
Lembrei então que havia pensado a mesma coisa em relação àquelas frases que colocamos no MSN, no campo escrito “Compartilhar uma mensagem rápida”. Lá, as pessoas manifestam suas felicidades, novidades, preocupações, oferecem produtos, pedem ajuda. Ou seja, essas frases contam também uma história. Muita gente já me chamou no MSN, após ter visto alguma frase que coloquei, para perguntar sobre.
Essas frases são uma divulgação (ou marketing?) pessoal. Todo mundo lê, mesmo que não comente. Todo mundo acompanha a história que contam e se não comentam conosco, o fazem com outros. Ou seja, a história contada segue em frente.
Estes dois – os torpedos e o MSN – não são os únicos exemplos de coisas que contam histórias. Os e-mails também são assim. Usamos o correio eletrônico para contar e para saber as novidades das nossas pessoas queridas, além de enviar documentos de trabalho e para tantas outras finalidades.
Antigamente, a maioria dos e-mails tinha uma capacidade de armazenamento limitada, o que nos obrigava, de tempos em tempos, a apagar as mensagens mais antigas ou menos importantes. Hoje não, as caixas dos e-mails têm capacidade ilimitada. Vão se acumulando. E quando queremos recuperar algum detalhe, alguma informação que não lembramos, existem os mecanismos de busca para nos auxiliar. Maravilhas da tecnologia. Não precisamos mais anotar coisas importantes em caderninhos, basta fazer a busca automática. Então, os e-mails guardados também contam histórias.
Esses são exemplos de histórias contadas por meio de palavras. Há também as histórias registradas por meio de imagens – as fotos! Viva a era digital! Lembra da época em que era preciso comprar filme para a máquina fotográfica e depois revelar as fotos? Só podíamos bater em múltiplos de 12 e corria o risco de queimar! Completamente diferente da realidade de hoje...
Com tantas fotos que são tiradas, em vários ângulos, caras e bocas, o costume de revelar caiu. Impossível revelar todas as fotos que tiramos. Então, colocamo-las em Orkuts, Facebooks, blogs e artifícios do gênero. Tudo isso também contando histórias. Fotos são maravilhosas para resgatar épocas. Revendo-as, conseguimos lembrar até do sentimento que tivemos na ocasião. Foto é fogo mesmo...
E as músicas então? Ahhh... quanta emoção... Decoramos trechos de letras, memorizamos os toques das músicas estrangeiras, associamos a pessoas, episódios, momentos... Quem é que nunca ouviu uma música e não relembrou a fase em que vivia quando ela estava nas paradas do rádio? Portanto, as músicas também contam histórias pessoais. E estão presentes, mesmo ao “fundo”, em todas as cenas marcantes.
Ou seja, não são só livros e filmes que contam histórias, não. Os objetos também, sejam eles reais ou virtuais. Por onde passamos, tudo fica impregnado com uma parte de nós e das pessoas com quem estivemos, de forma recuperável. Os momentos vividos viram histórias que são continuamente recontadas ao acionar o botão da memória por qualquer um desses vários meios.
(Rio Preto, 29/12/2010)