Um homem com um batom vale por dois !

Era um caso raro de casamento que deu certo, um encontro perfeito. Seus olhares ainda brilhavam, pegando-os de surpresa aos “namorícos”, após vinte anos de convivência !

Naquela noite, preparavam-se para um jantar - um bota dentro, amigo de casa nova - tinham uma vida social ativa, aquele grupo de colegas que se freqüentavam à longa data : uns separados, outros nos seus segundos ou terceiros relacionamentos. Eram, assim, os dois únicos sobreviventes aos novos tempos. Para os que admiravam, um exemplo de que "amor para sempre" existia. Os mais brincalhões, quem sabe enciumados, zombavam com o que podia não passar de acomodação monótona. Ah, mas que bonitos os dois juntinhos - nisso todos concordavam – esses, Alexandre e Belinha, não se desgrudariam jamais !

Ainda em casa, o casal descia á garagem , quando Alexandre percebeu ter esquecido o documento do carro. Belinha preferiu ir se ajeitando no automóvel. Entre uma revisão da maquiagem e a escolha de uma estação de rádio, o tempo ia passando, quando, meio distraída, à toa, abriu o porta-luvas - não era de fuçar coisas alheias, aquele era o carro

do Ale...- Mais atenta à canção, que ao vasculhar, de repente, um batom !

Ela nunca que usaria uma cor daquelas ! Nunca comprou um item se quer daquela marca !

- Não acredito !

Alexandre voltou, muito animado com o passeio. Como de hábito, virou-se para um selinho na esposa, encontrando uma Belinha séria, de olhar fixo para frente, diferente.

- Vamos, que já estamos atrasados - Ela disse.

O marido achou estranho, mas adiantou-se em ligar o carro, saíram. Não tinha dado atenção ao relógio, talvez tivesse passado do ponto, na procura do documento...

A cabeça de Belinha seguia à milhão ! Uma leva de pensamentos. Considerava as possíveis amantes - Nossa! E se fosse alguém da turma, uma daquelas amigas antigas que participavam das confraternizações, de um jantar como aquele, por exemplo ! Sentiu arrepios...Ah, umas vagabundas, essas todas, que trocam de marido como de Lingerie ! Vulgares...Mas quem ?

- Amor - disse Alexandre - entro nessa rua ?

Sem dar atenção, perdida num mar de sensações novas - o ciúme ! Já havia sentido sim, mas naquela intensidade, nunca, não havia motivos...- Um batom no porta-luvas - pensou - Que droga !

Perderam-se, o motorista notando a esposa distraída, compreensivo, decidiu agir por conta, parando no primeiro posto de gasolina para se informar.

Mas, e se ele, quem sabe, tivesse outra família ! E doía demais o que acabara de considerar - No entanto, era possível : ele viajava muito a serviço! Vai saber...

Era uma ingênua mesmo, tinha certeza que os dois se completavam, agora, pensou – Quem sabe em outro município, outro Estado - Ia formulando as hipóteses e facilmente encontrava suporte nas lembranças, que justificasse a possibilidade, concluiu - Não acredito, eu convivo há vinte anos com um...um sem moral...um bígamo ?

Localizado, seguia Alexandre rumo à casa nova do colega, enquanto viajava em seus próprios problemas. Uma questão de trabalho em especial, o preocupava : ele tinha que terminar o relatório do ultimo simpósio e enviar para aquela chata : Uma coordenadora de região nova, metida a besta, até tirou ele de motorista – Vê se pode ! Foi um tal de ir pra lá e pra cá com aquela dona ! – E nem me custeou a gasolina ! Pensou – Além de tudo, uma perua de extremo mal gosto, roupas cafonas e um batom vivo, brilhante, horrível...

Estacionaram em frente à casa. Uma rua bonita, mas pouco iluminada, num dos postes, bem em frente ao endereço, a lâmpada queimada. Belinha, como que saída de um transe, pernas abertas, encaixou-se sobre o colo de Alexandre...

- O que isso amor ! Que molecagem é essa – no fundo, gostando...

- Seu safado ! Quero ver se ela faz melhor...

- Quem faz o que ? – Já totalmente envolvido, ele a amava...

- Ah, seu sem vergonha...seu puto...

Nesses amores, onde tudo da certo, é assim...Os deuses ajudam – nem era tão tarde, mas se quer uma viva alma passou na rua naquele momento – Eles se agarravam, se comiam, esquecidos – Até o desserviço da prefeitura, falta de iluminação: todos ajudam nesses amores onde tudo dá certo.... E de combinação, Belinha e uma lua crescente bonitas deixaram Alexandre louco como nunca, foi o melhor dos amantes. Fizeram amor com a energia de dois adolescentes e a sabedoria dos que se conheciam muito bem, para sempre...

Antonio Gomes
Enviado por Antonio Gomes em 22/09/2011
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