Afinal, o que queremos?
Queremos tão pouco e esse pouco quase sempre nos é negado.
Como na linda história que acabei de ler, só queremos um fósforo, uma balinha de hortelã, uma xícara de café e um jornal. Um sorriso largo de alguém nos olhando de verdade, também serve. E como serve!
No entanto, as pessoas estão tão absorvidas em si mesmas que nem notam no nosso olhar, nas nossas palavras, no nosso pedido de socorro. E que não é um pedido de socorro tão grave assim. É apenas o desejo de ser ouvido, nada mais... E quantas vezes recebemos uma resposta apressada, desatenciosa, com certa irritação.
É possível que meus amigos já estejam curiosos em saber sobre a linda história que comentei no início da nossa prosa. Ninguém resiste a uma história, não é mesmo?
Mas antes, devo dizer que meu primo Almir, que começa a aparecer com constância nas minhas crônicas, tinha essa preocupação em satisfazer nossos pequenos desejos. Nas nossas conversas, se manifestasse um desejo, sem eu notar, ele registrava em sua mente e me fazia uma surpresa, não só comigo, mas com todas as suas amizades.
No tempo em que o brasileiro mal conhecia o famoso açaí, falei com o Almir, lá em Manaus, que adorava essa bebida e que não encontrava essa delícia no Rio de Janeiro. Quinze dias depois, de volta ao Rio, recebo em minha casa, cinco litros de açaí. Imagino, naquele tempo, a dificuldade de se enviar uma encomenda dessas. E nem conto todos os meus pequenos desejos satisfeitos por ele na minha cidade natal, uma cidade tão diferente de todas as outras do Brasil, apenas uma pequena clareira no meio de uma selva amazônica misteriosa e quase intransponível. Não é uma cidade em que se vai para se curar de algum mal, como se vai para uma estação de águas, como já disse o poeta. Em Manaus, vamos para nos contaminar... Chego a pensar em fazer minha viagem definitiva de volta para minhas origens. Quero me contaminar!
Mais uma historinha, amigo leitor, que ficamos conhecendo. Não é disso que a gente gosta? Então, vamos, agora, à linda história: o nosso personagem queria apenas passar uma noite num hotel e prosseguir na sua viagem. Na recepção, muito bem acolhido, respondeu algumas perguntas da atenciosa funcionária. Ao entrar no seu quarto, arrumado com extremo bom gosto, ficou surpreso em ver uma caixa de fósforos sobre a lareira. Em cima do travesseiro de dormir uma bala de hortelã. O jantar no hotel foi delicioso. Cansado, retornou para o apartamento e notou que a lareira já estava acesa, numa noite de muito frio. Na manhã seguinte, ao acordar, ouviu um borbulhar de água fervendo na cozinha do apartamento. Era uma cafeteira ligada por timer automático. Junto à cafeteira um cartão: “Seu café predileto, bom apetite”. Foi quando o nosso hóspede lembrou-se, quando jantava, que lhe foi perguntado qual o café da sua preferência. Logo em seguida, um leve toque na porta. Ao abrir, o jornal da sua preferência. Mais uma vez, lembrou-se que na recepção lhe perguntaram sobre seu jornal favorito. Não preciso dizer que nosso amigo saiu encantado com este hotel. E saiu encantado, simplesmente, porque ganhou uma bala de hortelã, uma caixa de fósforos, uma xícara de café e um jornal.
Dizem que gostamos da arte para fugir do nosso quotidiano repetitivo e muito limitado.
Einstein nos aconselhava a nos maravilhar com a terra e experimentar o prazer de um por do sol (goûtez le plaisir d’un coucher de soleil). E se maravilhava com este planeta, "uma beleza fria, mas contudo profunda e emocionante do que é eterno e incompreensível."
Enquanto não chegamos a este sublime estado mental, me contento com muito menos. Já me encanta muito ganhar de presente a caixa de fósforos, a balinha de hortelã, o café e o jornal. E para esquentar este planeta só um sorriso largo e um abraço generoso de um outro ser humano.
Queremos tão pouco e esse pouco quase sempre nos é negado.
Como na linda história que acabei de ler, só queremos um fósforo, uma balinha de hortelã, uma xícara de café e um jornal. Um sorriso largo de alguém nos olhando de verdade, também serve. E como serve!
No entanto, as pessoas estão tão absorvidas em si mesmas que nem notam no nosso olhar, nas nossas palavras, no nosso pedido de socorro. E que não é um pedido de socorro tão grave assim. É apenas o desejo de ser ouvido, nada mais... E quantas vezes recebemos uma resposta apressada, desatenciosa, com certa irritação.
É possível que meus amigos já estejam curiosos em saber sobre a linda história que comentei no início da nossa prosa. Ninguém resiste a uma história, não é mesmo?
Mas antes, devo dizer que meu primo Almir, que começa a aparecer com constância nas minhas crônicas, tinha essa preocupação em satisfazer nossos pequenos desejos. Nas nossas conversas, se manifestasse um desejo, sem eu notar, ele registrava em sua mente e me fazia uma surpresa, não só comigo, mas com todas as suas amizades.
No tempo em que o brasileiro mal conhecia o famoso açaí, falei com o Almir, lá em Manaus, que adorava essa bebida e que não encontrava essa delícia no Rio de Janeiro. Quinze dias depois, de volta ao Rio, recebo em minha casa, cinco litros de açaí. Imagino, naquele tempo, a dificuldade de se enviar uma encomenda dessas. E nem conto todos os meus pequenos desejos satisfeitos por ele na minha cidade natal, uma cidade tão diferente de todas as outras do Brasil, apenas uma pequena clareira no meio de uma selva amazônica misteriosa e quase intransponível. Não é uma cidade em que se vai para se curar de algum mal, como se vai para uma estação de águas, como já disse o poeta. Em Manaus, vamos para nos contaminar... Chego a pensar em fazer minha viagem definitiva de volta para minhas origens. Quero me contaminar!
Mais uma historinha, amigo leitor, que ficamos conhecendo. Não é disso que a gente gosta? Então, vamos, agora, à linda história: o nosso personagem queria apenas passar uma noite num hotel e prosseguir na sua viagem. Na recepção, muito bem acolhido, respondeu algumas perguntas da atenciosa funcionária. Ao entrar no seu quarto, arrumado com extremo bom gosto, ficou surpreso em ver uma caixa de fósforos sobre a lareira. Em cima do travesseiro de dormir uma bala de hortelã. O jantar no hotel foi delicioso. Cansado, retornou para o apartamento e notou que a lareira já estava acesa, numa noite de muito frio. Na manhã seguinte, ao acordar, ouviu um borbulhar de água fervendo na cozinha do apartamento. Era uma cafeteira ligada por timer automático. Junto à cafeteira um cartão: “Seu café predileto, bom apetite”. Foi quando o nosso hóspede lembrou-se, quando jantava, que lhe foi perguntado qual o café da sua preferência. Logo em seguida, um leve toque na porta. Ao abrir, o jornal da sua preferência. Mais uma vez, lembrou-se que na recepção lhe perguntaram sobre seu jornal favorito. Não preciso dizer que nosso amigo saiu encantado com este hotel. E saiu encantado, simplesmente, porque ganhou uma bala de hortelã, uma caixa de fósforos, uma xícara de café e um jornal.
Dizem que gostamos da arte para fugir do nosso quotidiano repetitivo e muito limitado.
Einstein nos aconselhava a nos maravilhar com a terra e experimentar o prazer de um por do sol (goûtez le plaisir d’un coucher de soleil). E se maravilhava com este planeta, "uma beleza fria, mas contudo profunda e emocionante do que é eterno e incompreensível."
Enquanto não chegamos a este sublime estado mental, me contento com muito menos. Já me encanta muito ganhar de presente a caixa de fósforos, a balinha de hortelã, o café e o jornal. E para esquentar este planeta só um sorriso largo e um abraço generoso de um outro ser humano.