Texto do meu romance "Lanternas vermelhas", em revisão.
-Muito bem! Eis - nos juntos, novamente! - Disse Devon - Parece que temos novidades, desta vez. Não é, Nayara?
-Já conversei com Roberto e ele sabe do que se trata, mas para os demais, sim, é novidade o que tenho a dizer.
-Então não percamos mais tempo! Augusto e eu também temos alguma coisa para contar. O quê foi que aconteceu? – Tornou ele.
-Há duas noites atrás, tive uma visão grotesca de algo que, depois, fiquei sabendo que realmente aconteceu! Quer dizer, só poderei dizer que aconteceu, com certeza, depois que ela me confirmar! Se o fizer, pois pelo visto, não contou nada a ninguém. No que não a censuro, aliás!
-Como assim, ficou sabendo “que realmente aconteceu”? E o quê, só ela pode confirmar? Ela quem?
Ele não queria acreditar que a garota já se houvesse antecipado ao que ele e Augusto tinham como novidade e, menos ainda, que ela já tivesse tudo como confirmado! Aquilo não seria possível! Mas era. Só que muito pior do que todos ali podiam imaginar!
-Na visão que tive, uma moça foi violentada por uma entidade maléfica! Rezei para que tivesse sido só um pesadelo, mas eu e Roberto fomos investigar, depois que li algo estranho num desses jornais de escândalos. A coisa toda aconteceu, mesmo, e a moça em questão, aliás uma jovem senhora, que reconheci como sendo a da visão, realmente sofreu algo de grave! Claro que não é do conhecimento de ninguém, mas no estado em que ela ficou, tenho certeza de que o que tive não foi um pesadelo, mas uma visão! Isto a deixou em estado de choque e ela teve que ser internada numa clínica.
-E quem lhe deu essas informações? - Perguntou ele - Acaso foi até à clínica?
-Não, Senhor. Reconheci o lugar onde tudo aconteceu, uma colônia irlandesa, que fica distante alguns quilômetros daqui. E depois da notícia no jornal, fui com Roberto até lá.
-Mas como, reconheceu?
-É simples. Fui criada lá. Bastou - me ver o tipo da casa, as coisas que haviam no quarto, para lembrar-me de toda minha infância. Foi fácil associar.
-Mas como fez para descobrir a mulher e o que aconteceu?
-Naquele dia, não se falava em outra coisa. E como não sou uma estranha ao lugar, foi fácil saber o que eu queria. E sabendo o nome da mulher, não foi difícil chegar até ela.
-Está querendo dizer que já falou com ela? - Por mais que procurasse evitar, sua voz traía uma certa decepção.
-Sinto muito, Inspetor, mas só conseguimos falar com a mãe. E para confirmar tudo, só mesmo ouvindo dela!
-Ah!
Só Augusto foi capaz de entender o que havia por trás daquela expressão.
-Mas e por quê não? - Tornou ele, após uma pausa.
-Apenas porque a mulher, cujo nome é Sophia, recusou - se a falar sobre o assunto, a receber - nos. E tivemos que respeitar isso, depois do choque pelo qual passou.
-Compreendo. Claro. Bem, e agora? O que pretendem fazer?
-Achamos que o senhor talvez pudesse pensar em alguma coisa. Por isso resolvemos nos reunir aqui e discutir sobre o assunto.
“ -Menos mal”- Pensou.
-Com licença. - Disse Roberto - Ou muito me engano, ou nada do que foi dito aqui foi novidade para o senhor e para Augusto. Estou enganado?
-Não. Não está. Era sobre isso que eu ía falar, depois que ouvíssemos o que tinham a dizer, muito embora eu já tivesse quase certeza de que se tratava de um mesmo assunto. Na verdade, é a mesma coisa. Tomamos conhecimento de tudo através de um jornal, o que duvido tenha sido por acaso, e tivemos o mesmo pressentimento. Só chegamos ao caso por caminhos diferentes, pois enquanto vocês foram à casa da mulher, nós buscamos a clínica. E também como vocês, não chegamos a falar com ela por puro respeito. Sabemos onde encontrá-la, mas preferimos esperar um pouco mais. Só que não imaginávamos que tivesse sido assim tão grave...
-E quando pretendiam nos pôr a par de tudo isso, Doutor Devon? - Havia uma certa cobrança na voz de Martina, que havia escutado tudo com muita atenção.
-No momento em que tivéssemos certeza de nossas suspeitas, é claro! Não pensem que pretendemos trabalhar sozinhos e ocultar informações. Aqui, neste caso em particular, dependemos todos uns dos outros! Também Nayara e o Doutor Roberto tiveram a mesma intenção, tenho certeza!
-Podem apostar nisso. - Disse Roberto.- Estamos juntos numa situação que exige toda a colaboração possível de cada um! Não estamos lutando com uma coisa que podemos ver, tocar e ouvir naturalmente, mas ela pode nos prejudicar como quiser! Temos que estar unidos para podermos encontrar uma maneira de nos defender!
-Desculpe, Delegado,- Disse Martina - eu não quis parecer desconfiada, apenas estou muito nervosa com tudo isso! Dillon teve outro pesadelo esta noite e passou muito mal! Ele quer participar dos nossos encontros.
-Mas ele é ainda muito jovem!
-Não diria isso se o conhecesse. Além do mais, tem muito mais conhecimento do que eu, no que se relaciona com seus pesadelos e com o que vê neles, detalhes que eu não vejo.
-O que acha, Padre Simon? Não seria arriscado que o garoto se expusesse?
-Não creio que ele vá ser prejudicado ainda mais. Parece que a “coisa” já tem um plano para ele. E não me parece, segundo posso sentir, que seja algo de urgência. A impressão que tenho é de que Dillon, de alguma forma, tem um papel muito especial nessa história toda...