As relações no tempo
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– Poxa, professor! O senhor só chama a minha atenção! Fica o tempo todo repetindo “Romeu, só escuto a sua voz!”
– É por afinidade, rapaz. E pra quebrar o clima tenso com os demais alunos que ainda não conheço. Afinal, você já estudou comigo ano passado, é repetente, mas foi meu aluno... Somos amigos de anos, certo?
– De anos nada!
– É verdade, é verdade. Amizade de anos pela mal! Podemos, então ser amigos de meses?
– Melhorou.
– Não, de meses também não fica muito a contento. Para machos nordestinos e fortes como somos todos nós meses pode ser entendido como período de gestação; e se forem nove... Teríamos uma amizade parida? Por isso o desentendimento – talvez seja pela dor do parto.
– Respeito é bom, professor! Respeito é bom...
– Perdoe-me! Seremos amigos de dias.
– Pode ser. Dias tem mais a ver com nossa real relação de amizade. Não confunda as coisas, professor!
– Há ressalvas e dificuldades com os dias. Se Dias for com maiúscula poderia representar o Seu Dias da cantina... Isso complicaria tudo!
– Ou significar que você estaria com os dias contados... Professor!
– Relação, como você mencionou, estimado aluno, se for a dois, excluiria o Dias automaticamente. Ménage à trois? Garoto moderno... Ou você se refere à relação como função onde para determinado valor de “x” encontra-se um valor de “y” correspondente? XX, XY... Meninas e meninos; homens e mulheres, maiores de idade – sexo!
– Ménage o quê?
– E tem mais – assevera o professor Faustino – está me chamando de fútil, do tipo de homem que tem relações casuais, sem compromisso algum e pronto? Mais respeito, rapaz! Comigo, as relações precisam ser como a vida: gestarem-se, nascerem, desenvolverem-se e, quem sabe, terem fim como em Romeu e Julieta – juntinhos!
– Ei, meu nome também é Romeu! – grita um novato lá do final da sala.
Pelo silêncio que se seguiu não havia nenhuma Julieta presente, mas, por muito pouco, não houve outra tragédia.
(Por que não fiz a chamada antes de iniciar a aula)
Crato-CE, 21 de setembro de 2011.
02h36min