O silêncio dos quase inocentes
Penso no silêncio. No silêncio constrangedor, no silêncio necessário, no silêncio aprendizado e na absoluta falta de som do universo, simplesmente silêncio. Às vezes o silêncio incomoda, outras vezes o silêncio nos trás paz e algumas vezes o silêncio nos ensina. Existe também o medo do silêncio. É o silêncio aterrador. O silêncio que nos oprime, o silêncio que nos mata. Mas afinal quando sentimos isso? Muitas vezes – principalmente quando esse silêncio de um jeito ou de outro mede o nosso desempenho. Quando esperamos por som ao invés de silêncio. Quando pensamos em barulho, de chuva após um dia muito quente, de risos, de crianças, de alegria, do vento, do mar e das nossas lembranças. Barulho de uma voz nos dizendo alguma coisa, qualquer coisa. Nada, no entanto é mais triste e melancólico do que sentir o silêncio das pessoas que amamos. Sentirmos o silêncio dos filhos quando os esperamos barulhentos e famintos. Sentir o silêncio dos amigos quando temos tanta coisa pra contar e o silêncio de quem ama quando o aguardávamos alegres e sorridentes. É difícil aceitar o silêncio de quem amamos quando temos tanta vontade de manifestar nosso carinho. O silêncio nesse caso funciona como uma couraça questionadora, o que eu fiz de errado? Será que eu disse algo que o magoou. Porque meus filhos estão tão calados, será que estão com problemas sérios e eu não havia percebido? Faz tanto tempo que não vejo essa amiga e ela quase não fala? Deve ser alguma coisa que eu fiz e disse na última vez que nos encontramos. Só pode ter algum tipo de problema comigo, porque ele, ela, eles, elas se calam quando eu o, os estou aguardando manifestando toda a sua alegria e felicidade através de um barulho, de um riso, de uma gargalhada, de um telefonema, de um som. Na realidade você, eu, ele nós, não fizemos nada errado ou até tenhamos feito, a tentativa de manifestar através do som algo que somente se manifesta no silêncio. Eu fico lembrando em todas as vezes que estava num profundo estado de silêncio, sem desejo algum de conversar com qualquer pessoa, mas os compromissos do dia-a-dia não permitiam que eu ficasse nessa imobilidade por muito tempo. Saia de casa silenciosa e chegava ao local determinado com um sorriso, conversando muito, porém quando voltava a casa manifestava o meu mutismo a minha mãe, meu pai ou a minha filha. Vocês já perceberam como é fácil ficar em silêncio na frente das pessoas que sabemos que nos amam profundamente – por quê? Talvez porque saibamos que somente quem nos ama realmente é capaz de aceitar o nosso silêncio e porque infelizmente também é mais fácil magoar quem amamos. Sabem por quê? Porque quem ama nos aceita de forma e do jeito que somos. Somente quem nos ama de verdade é capaz de entender o silêncio mesmo que machuque que questione que maltrata que preocupe. Talvez tenha nesse silêncio uma mensagem implícita – eu sei que você me ama por isso aceite meu silêncio porque com você sou capaz de compartilhá-lo.