"Dai-me um engarrafamento!" (seminale) Seminalenko Santosov ministro sexólogo da corte de Gorobixaba
Daí-me, um engarrafamento...
Assim pensei e, realmente desejava ao ouvir a canção para embalar a morte...
Tal pensamento profundamente estranho, um tanto mórbido, mas a verdade é que sentia a experiência mística ao subir a serra Grajaú Jacarepaguá.
Amigo leitor creia que este pacóvio escritor não perdeu a lucidez e nem está em estado alterado de consciência ao comentar que augurava por um bendito engarrafamento na serra numa tarde quente de sábado.
Procuro assim me apressar nas explicações que, por certo contando com a piedade e por que não dizer do espírito livre do leitor amigo,
a compreensão deste sentimento arrebatador ...
Acabara de atender em meu consultório pediátrico, onde ouvira lamúrias maternas, risos e choros de criança, quando iniciava a subida da estrada Grajaú Jacarepaguá. Sintonizei na radio MEC e comecei a ouvir o comentário de Paulo Alberto, o Artur da Tavola sobre o requiem de Gabriel Faure.
O meu primeiro ímpeto foi mudar de estação, pois conhecia a famosa “Lacrimosa“ de Mozart, o requiem de Verdi e ambas faziam-me pensar nas sextas feiras santas de minha infância onde cultuávamos a morte com seus tons soturnos, pesados...
Porém o comentarista iniciou dizendo que Faure, cansado de tocar órgão nos serviços de enterro, ao ser solicitado a compor a peça fúnebre resolveu fazer “algo diferente”. Logo veio a mente a famosa questão de Antonio Salieri que angustiado pela inveja do gênio austríaco, camuflado em desconhecido cliente, contratou Mozart para compor um réquiem.
Na medida em que a famosa missa ia tomando forma Mozart sentia que morria aos poucos e partiu antes de concluir.
Gabreil Faure entendia a morte como uma libertação e aspiração a felicidade no alem...
Dizia ”Meu requiem não exprime o temor da morte, alguém chamou-o de cantiga de embalar a morte...”
Este feliz comentário aguçou minha curiosidade e deitei-me na contemplação ao ouvir as primeiras notas.
O coro angelical “santus, santus’ me raptou para uma dimensão supra consciente. Cessaram meus sentidos, morrera em vida e parafraseando João da cruz.
"...A mosca que pousa no mel não pode voar... ASSIM, a alma que fica presa ao sabor do prazer sente-se impedida em sua liberdade e contemplação."
São João da Cruz
Senti que minha alma desprendera-se das viscosidades melíferas da ilusão dos apegos e desejava tão somente voar sobre as corolas das flores, auscultar-lhes o que iam em suas alminhas, ouvir a voz inebriante do silencio, onde Deus fala pela voz dos querubins rechonchudos ou como dizia Ioganada nos “sussurros de La Madre eterna”, cânticos da infinita ventura.
Meu coração por um momento, quando o Kirye foi entoado, implorando perdão do Senhor, com a força de um espírito que lutava pela liberdade, não resistiu e derramou todas as lagrimas de um pranto que consolaria as dores do mundo...
Contudo João da cruz com sua sabedoria veio célere ao meu socorro...
A única linguagem que Deus
ouve é o silêncio do amor...
O silêncio não é o amor
mas um preâmbulo para o amor.
São João da Cruz.
Neste instante o réquiem entrara no momento de maior plenitude onde eu quisera não mais voltar, porém meu pobre e esfarrapado ego ainda implorava pelo meu retorno... A musica retratava o “paradisum” a entrada de meu espírito a "terra da felicidade”. A melodia de uma beleza indescritível era uma berceuse, cantiga de ninar para um adormecer tranqüilo.
Ah! Que meus sentidos por um momento me avisaram que estava chegando ao meu destino, porém desejava permanecer naquele estado de nirvana. Foi neste instante que roguei por um engarrafamento divino que me possibilitasse concluir ouvindo o réquiem de Gabriel Faure.
Cheguei finalmente em frente ao portão de minha garagem, entrei com aquela face bovina e voltei súbito ao mundo dos “vivos’...