UMA NOITE NOEL ROSA

     Será a precocidade um atributo dos gênios? O dom que lhes antecipa a talentosa vida é o mesmo que, quase sempre, lhes abrevia a morte.

     Noel Rosa é um exemplo entre muitos. Aos 27 anos a morte interrompeu-lhe o curso da vida, cujas comemorações ao centenário em 2008 vieram póstumas. Brevidade tem a ver com genialidade, que à posteridade se reserva. E o talento de Noel, como de outros gênios, segue o curso de outras gerações. Não fosse a precocidade do talento talvez tardiamente chegaria ao reconhecimento e pouco lhe reservaria a história. E a história, essa memorial e infalível reveladora de gênios, eternizou Noel. Mesmo antes do milagre da técnica, quando só o talento prevalecia.

     Um álbum DVD/CD comemorativo aos 100 anos do Poeta da Vila reúne uma nova geração de intérpretes, num show que apresenta dezoito das célebres composições de Noel Rosa. São composições conhecidas e consagradas por várias gerações,  agora revestidas de novos arranjos e interpretações. Noel mantém-se atual, modernamente eterno pela qualidade poética no cotidiano de suas letras. A preciosidade melódica e a raridade das rimas eram a “boa média” com que ele saboreava ritmos e sons com absoluta naturalidade de gênio convincente de que, “Quem nasce lá na Vila nem sequer vacila ao abraçar o samba”. Samba que a partir de Noel consolidou-se e dividiu a história da música popular brasileira.
                    
     A precocidade antecipou-lhe o talento em curta vida que nos legou significativa obra. Tivesse o gênio vivido até a idade de outro, o Chico, a dimensão brasileira seria menor para ambos. Mas Noel está tão fisicamente presente como a contemporaneidade das suas composições, sempre regravadas e revividas por novas gerações que o redescobre. O Show conta com participações marcantes como Zeca Pagodinho, João Bosco, Diogo Nogueira, Zé Renato, Roberta Sá, Rodrigo Maranhão, Ney Matogrosso e outros. E como disse o Zeca, “Só não é fã de Noel quem não conhece a obra dele”. Este álbum é mais uma oportunidade para a  minha e outras gerações conhecerem os verdadeiros gênios da MPB.

     Não sei em que fase da sua precocidade Noel escreveu estes versos: “Não te vejo e não te escuto./O meu samba está de luto./Eu peço o silêncio de um minuto,/Homenagem a história/De um amor cheio de glória/Que me pesa na memória.” Esse encadeamento de rimas me arrepia! Assim também, na mesma canção, as seguintes metáforas: “Tu cavaste a minha dor com a pá do fingimento/E cobriste o nosso amor com a cal do esquecimento”. E Noel tinha vinte e sete anos!... Roberta Sá dá um tom melancolicamente lírico à canção Pela Décima Vez. Incrível este lance de Noel: “Joguei meu cigarro no chão e pisei./Sem mais nenhum, aquele mesmo apanhei e fumei”. E noutra canção interpretada por Rodrigo Maranhão:  "Pra que mentir/ se tu ainda não tens /esse dom de saber iludir?"

     E é por aí que acontece o espetáculo que, graças ao milagre do DVD, eterniza em imagens os atributos dos gênios. Noel não previu nada disso. Mas disse numa das suas composições: “O cinema falado/É o grande culpado/Da transformação...” E aí está em DVD, UMA NOITE NOEL ROSA, confirmando tudo, noutra versão.

Ouça aqui duas interpretações magnificas>


http://www.youtube.com/watch?v=Is9Ecv6WD8k&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=NzZZKiHqciQ
LordHermilioWerther
Enviado por LordHermilioWerther em 19/09/2011
Reeditado em 20/09/2011
Código do texto: T3228099
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