O mal é humano?
O mal é humano? Não sei. O que sei é que o mal existe como contra-ponto do bem. Assim, o bem que deixamos de fazer torna-se mal. Ainda que involuntário, porém é mal. E o mal faz vitimas. Sempre. E o veículo tanto de um (bem) como de outro (mal) é o homem.
Porém, em nome de classificações, rotulamos o mal como algo feio, monstruoso, discordante e arquetipado. Nossa cultura dramática, que imita a vida, criou personagens como Drácula, Lobisomem e outros monstros; Já a cultura religiosa, criou a classificação dos infiéis-inimigos, e por aí vai. Tudo isso para justificarmos nossa omissão diante do processo da vida.
Mas o mal é tão presente em nós, que flui naturalmente. Basta uma palavra, um gesto ou uma atitude e um mundo (vida) pode ser afetado para sempre. Veja o caso do Leonardo: Ele seguia para o trabalho em mais uma manhã. Tudo corria bem, até que ele reparou o motorista do ônibus. Num primeiro momento ele (motorista) conversava com uma jovem. Logo que ela deixou o coletivo, o tal motorista soltou a bomba: "Sou doido para pegar essa mulher", no mínimo um comentário infeliz, ou "pegar" alguém é termo de carinho? A viagem seguiu e num determinado local, um jovem pediu para entrar no carro e assim que foi autorizado se identificou como representante de uma Casa de Recuperação de Drogados. Falou sobre o drama destes muitos que vivem por aí a margem da sociedade e uma solicitação chamou a atenção de Leonardo: "Não classifiquem um ser humano pelo erro. Não chamem um usuário de drogas pelo nome da droga, como por exemplo cracudo". Foi a partir desta solicitação do rapaz que o motorista simplesmente se transformou. Passou a guiar o ônibus em alta velocidade e a chamar a todos os outros motoristas com quem crauzava de "cracudos". Léo, sentiu um clima pesado entre os passageiros e o rapaz, visivelmente constrangido, pediu para descer.
O fato, que marcou a história de Leonardo, deve ter marcado também a história de muita gente presente no episódio.
Pergunto: Por que tal atitude? Por que agir assim? Não aceitar a divulgação do empreendimento do rapaz é direito do motorista, mas tornar claro sua opinião da forma que foi poderia ser avitado? Se não fosse assim, o que mudaria? Como está neste momento o rapaz que divulgava a oportunidade de recuperação?
Bem, tais perguntas vão ficar sem resposta, mas o presente nos chama para responsabilidade de nossas atitudes. Só reclamar do mal é a desculpa da omissão e não há como ser omisso na história: O bem e o mal está diante de cada um de nós e o caminho nós escolhemos.
Pense nisso, afinal as escolhas são como sementes e cada um só colhe aquilo que planta.
Ubirajara Oliveira