PASSAGEIROS DA SAUDADE

Dois homens visivelmente alcoolizados embarcaram no táxi-lotação.

Foram logo entregando para o motorista uma nota de dez reais e pedindo que os avisassem quando chegassem em frente ao Presídio Feminino Madre Peletier.

Estavam modestamente vestidos.

Um deles, o mais velho, aparentava uns 60 anos de idade. O outro uns quarenta e poucos.

Apesar do lotação estar quase vazio os dois sentaram em bancos separados. Os dois falavam alto mas, apesar disso, eu não podia entender o que diziam devido ao intenso barulho do trânsito. Porém, no diálogo entrecortado pude ouvir o que o mais moço dizia:

"-Bah velho! Eu gosto muito de ti! Tanto como da minha velha!"

O outro respondeu:

"-Não é nada! A gente só faz aquilo que pode!"

Depois de alguns minutos de silêncio o mais moço perguntou pro outro:

"- Depois vamos tomar umas geladas?"

Não pude ouvir o que o mais velho respondeu. Só ouvi o que o mais moço disse:

"-Tudo bem! Só uma então!"

Logo depois este último disse:

"Tô com uma saudade danada da minha velha! Tô até com vontade de chorar!" Será que ela vai aparecer na janela?"

Em seguida ambos desembarcaram trôpegos em frente ao presídio.

O mais moço olhava ansioso para as janelas do presídio. (Não era dia de visitas).

O lotação seguiu seu trajeto enquanto eu fiquei pensando que para aquelas almas famintas de amor, bastava um simples aceno e uma garrafa de cerveja bem gelada.

Nesse instante me lembrei da letra do Chico e do Vinícius:

"...é gente humilde que vontade de chorar."

Gilberto Stone
Enviado por Gilberto Stone em 18/09/2011
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