VENDEDORES AMBULANTES E BRUNA SURFISTINHA – A GRANDE SACADA

Há algum tempo venho observando vendedores ambulantes nos sinais. Alguns tem seus pontos fixos e produtos também. Há os que se colocam na condição de vítima das circunstâncias – aqueles que penduram um saquinho (geralmente com balas ou jujubas) no retrovisor de seu carro escrito algo do tipo: “Ajude-me (...)”

Confesso que sou sempre tomada pela dúvida existencial: comprar ou não comprar, eis a questão! Tara por doces? Não. Não é esse o problema. No fundo o conflito resume-se a ajudar ou não a criatura. Mas a reflexão é mais profunda. Você compraria um produto que não irá consumir apenas para ajudar o próximo? Pergunto-me. Se for assim, passe na próxima banca de jornal, padaria, supermercado, ou qualquer estabelecimento de vendas e adquira muitos e muitos produtos. Mesmo que não vá consumi-los. Os donos dos comércios precisam vender, logo precisam também de sua contribuição. Por esse raciocínio, a conclusão é óbvia: não devo comprar.

Por outro lado, o que está em pauta é a solidariedade para com o semelhante, já que, diferente dos donos dos estabelecimentos supracitados, este está colocando-se na condição de vítima. Se é pela solidariedade, ok. Posso comprar as balinhas, mesmo que não me sejam úteis. Ou ainda, para não desperdiçá-las, posso simplesmente dar minha contribuição financeira ao sujeito, sem exigir o produto em troca. Outra questão ética me assalta nesse momento: se eu simplesmente der o dinheiro e não quiser o produto, estarei dando esmola, e, por conseguinte retirando-lhe a dignidade de trabalhador. Essa também não é uma boa opção. Meu dilema tem fim com o abrir do sinal. Pelo menos até parar no próximo e começar tudo novamente.

O fato é que um desses vendedores há muito me chama a atenção. Recordo-me que na época da Copa do Mundo lá estava ele oferecendo adereços em verde e amarelo – enfeites de cabeça, vuvuzelas e uma variedade inimaginável de pequenos artefatos. Pouco depois, época de natal é lá estava o sujeito oferecendo gorrinhos de Papai Noel. Passei numa “época comum” dia desses, curiosa. O que será que ele estaria vendendo? E lá estava o cidadão a oferecer chocolates (aquele caramelizado, coberto com flocos e chocolate... hummm). Quase não resisti. Nesse caso fui impedida apenas pela lembrança de meu processo alérgico. Estava voltando do almoço e um chocolatezinho até que cairia bem. Mas não comprei.

Vejam a mudança de foco: o meu dilema nesse momento era outro. Em vez de “ajudar ou não - eis a questão”, fui obrigada a recorrer à lembrança de meu processo alérgico, para não cair em tentação. Ora, o que o difere dos demais vendedores? Por que o meu dilema nessa ocasião era outro?

Assistindo recentemente à versão cinematográfica da história de Raquel Pacheco – a Bruna Surfistinha, pude responder melhor àquela questão. Num dado momento da narrativa – o ápice de sua carreira – a protagonista descreve suas grandes “sacadas” para o sucesso. E, entrelaçando-as, podemos defini-las numa palavra: VERSATILIDADE. Afinal, ela oferecia o diferencial, aquilo que julgava ser realmente necessário aos seus clientes, numa dada ocasião. E não é que deu certo?

O que há de comum entre eles? Habilidades, flexibilidade. A oferta de produtos ou serviços potencialmente necessários, num determinado contexto. Peço licença aos estudiosos da área (Administradores, Profissionais de Marketing, de RH e afins) para manifestar minha leiga, mas não por isso insensata, opinião sobre o assunto. Eis a constatação: Versatilidade, com boa dose de criatividade, faz muita diferença!

O que será que o nosso inventivo ambulante esteve vendendo durante o carnaval?

Março de 2011

Márcia Estulano
Enviado por Márcia Estulano em 18/09/2011
Código do texto: T3225930
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.