BANDEIRAS E RETALHOS
DESTES CÉUS
DO MEU
RIO GRANDE DO SUL
Sim, é bom amar o lugar aonde se vive, amar esta extensão de nós mesmos, aonde nossos passos se perpetuam, nossos olhos alcançam distâncias e divisam céus deste primavera, ah, eu amo as laranjeiras comigo desde a minha infância e me debruço sobre as lembranças que vem como um rastro em meu encalço, ah, eu amo o meu lugar, e agora, nesta semana de festejos pré Vinte de Setembro meu coração se enche de raros sentimentos de vermelhos lenços colorados. As prendas surgem pelas ruas, vestidos coloridos, e botas, lenços,e esta música que é tão nossa, acampamentos, festejos e o povo na sua melhor face e identidade.
Os sul-riograndenses , filhos tardios de um Brasil já em andamento, um tanto relegados à própria sorte, se forjaram em vaivéns e lutas para a consolidação de fronteiras, surgindo com os índios gaudérios à caça de cavalos que se espalhavam pelo pampa. São estes homens rudes, cavaleiros exímios que vão povoar o imaginário destes pagos e ser cultuados como os legítimos representantes do Rio Grande. O mito gaúcho continua nos unindo num mesmo espírito, razão que justifica a busca desta tradição.
NA DOMINGUEIRA....
Seis horas, e a acordeona segue a cantar chorosas milongas. Na pista restam poucos pares. Há espaço, então, para ousadias nos volteios e passos. Vigorosas pinceladas de tintas fluidas movem-se sobre esta tela viva diante de meus olhos. Os negros cabelos da moça de vestido floreado constrastam com a sua tez tão clara, pálida, e ao levá-la com cuidado, o seu parceiro parece carregar nos braços uma terna borboleta prestes a alçar um vôo leve, apenas estremecendo quase imperceptivelmente as asas de seus braços longos e perdidos na fortaleza daquele que a conduz. Ritmos e falares de contrabando constituem as nossas raízes espanholas, uns negros cabelos, e o arrastado do ritmo dos nossos vizinhos do Prata. Magia, pura magia... um "bandonión" de contrabando na minha mente agoniza Piazzola. A tarde se vai em milongas e tudo é somente um quadro surreal que vou compondo. O Pampa me vem assim nesta Domingueira, neste meu presente, aqui bem longe da sua geografia, (estamos no Vale do Rio Paranhana, encosta inferior do Nordeste ), neste salão de gente humilde mas aonde o mito sobrevive na realidade das maneiras, nos olhares...O Pampa me vem como nunca povoar este encantamento num final de tarde. E bastou somente transpor uma simples porta, logo ali, tão perto... Enquanto a acordeona se bandeia para um *chamamé de passos entrecortados, vou ficando naquela brecha de tempo: porteiras abertas e campo sem fim, e se consolidam meus mais intensos e exacerbados brios de mulher fortaleza: em mim vibram avós, bisavós, Jacobinas, Anas e Angélicas, Anitas guerreiras, sestrosas prendas no amor idealizado pela literatura ou parceiras dos seus homens acompanhando a marcha das revoluções.
E sou também aquela menina que se apaixonou pela estátua do gaúcho Laçador. Ele era mesmo um deus lá no seu pedestal, forte e belo diante do meu deslumbramento...
E que jovem mulher encontrou o seu amor, o seu gaúcho vindo de Caçapava do Sul, o seu laçador em corpo e alma e amoroso amparo. Que vive pra sempre no meu coração, amor para sempre, amor de toda a minha vida.
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Lendo a crônica
O MEU LUGAR (T3213235)
De: Raimundo Antonio de Souza Lopes , do outro Rio Grande, o Rio Grande do Norte, deixei comentário que aqui, junto com parte de uma antiga crônica, Domingueira, compõe estes retalhos de nossa história, de impressões, vislumbres e saudades.