MENINO CRIADO NO APARTAMENTO QUE DAVA TCHAU PARA O AVIÃO
Engraçado hoje eu ter me lembrado da história daquele menino que de tão ingênuo chegava a dar tchau para os aviões quando eles passavam por cima de seu quintal. Acho que aquele jovem esperava que o piloto ou alguém dentro do avião fosse ver e talvez retribuir o aceno. Acredito que a expressão vem definir uma pessoa que é muito gentil e chega até ser ingênua. Também tem aqueles que dizem que quando uma pessoa é desprovida de malícia e traquejo com as situações e as pessoas de uma forma geral, ela foi criada dentro do apartamento, ou seja, não brincou na rua, não brincou de pique esconde ou pega-pega, não soltou pipa ou papagaios, não jogou bolinha de gude ou burquinha, não jogou bafo e nem colecionou figurinhas da copa do mundo, ou seja, não apreendeu um pouquinho da “malandragem” da rua. Brincadeiras a parte, hoje eu me peguei dando uma de meninão de apartamento que dava tchau para o avião. Acho que todos nós às vezes já encarnamos esse personagem. O fato é que eu por diversas vezes andando em uma capital do Brasil percebi que muitos motoristas param seus carros quando os pedestres vão atravessar a rua, mesmo que não exista um semáforo com a luz vermelha acesa os impedindo de passar. Tal costume que por sinal é exemplar e com certeza deveria ser seguido por todos nós. Ocorre que na cidade onde moro isso quase não ocorre, e todas as vezes que um motorista fazia tal gentileza eu retribuía com um velho e bom gesto de positivo em agradecimento. No entanto, nessa grande cidade em que eu fiquei trabalhando por cerca de um mês percebi que os motoristas apesar do gesto de civilidade nunca chegaram a responder, não que isso fosse necessário, ou que eles tivessem desmerecida sua ação. De maneira alguma. E para alguém que tem uma cultura tão evoluída de respeito ao lado mais frágil no trânsito, quando para seu veículo aposto que considera não estar fazendo um favor, e sim um ato que não é mais do que uma obrigação, e por isso esses motoristas não esperam qualquer tipo de agradecimento em troca. No fim das contas eu parei de acenar para os motoristas e deixei de querer ser o meninão criado dentro do apartamento que dava tchau para o avião (com todo respeito àqueles que vivem e criam seus filhos no apartamento). Isso ocorreu de forma inconsciente. Mas passei a entender a diferença entre ser educado com quem nos faz um favor espontâneo, da situação em que existe a obrigação do agir de certa forma e que não se faz necessário o agradecimento por aquela atitude (se ocorrer tudo bem), no caso uma obrigação de respeito e civilidade no trânsito.