O Produto de R$19,00

Palavras presas na garganta.

Sem pretensão, ouviu os dizeres de um coração alheio. Tomou as doses de desespero e angústia que eram lhe servidas. Escreveu.

Palavras presas na garganta.

Pôs no bolso do peito esquerdo, as poesias de um dia avulso. E por impulso, tudo se construiu só, sozinho. Tudo se encaixou, então deixou a história trilhar seu caminho. Fez sua obra e a enciumou pela importância.

Cuidou dos versos mais de que seu corpo, que seu futuro. Criava-se uma fera banguela.

Cuspiu as palavras na face alheia (talvez esse fora seu grande erro) e liberou caminho para a água ardente, tomou. Gritou.

Fizera-se o livro mais ameno e sereno. Em cada linha, amor.

O poeta desiludido por amor, engavetou.

Até que abriram a gaveta em mais um dia de faxina, e descobriram sua arte. Pior, fez-se interesse por ela. A proporção já estara na outra ponta da mesa, fora do controle do autor.

Ofereceram R$19,00.

Preço equivalente aos sentimentos abatidos do poeta, mas a 1ª parcela de um tanto milionário número que poderia ter sido cobrado por sua arte.

Mesmo por tão pouco, o livro foi vendido. Sua arte encubada, em latência.

Transformaram em novela, em produto televisivo. Enxugaram a essência (a porra da arte), foderam com o senso poético e trocaram por linguagem popular para buscar audiência.

Audiência chula, suja.

Arte morta.

Lucas Mezz
Enviado por Lucas Mezz em 17/09/2011
Código do texto: T3225097