O Produto de R$19,00
Palavras presas na garganta.
Sem pretensão, ouviu os dizeres de um coração alheio. Tomou as doses de desespero e angústia que eram lhe servidas. Escreveu.
Palavras presas na garganta.
Pôs no bolso do peito esquerdo, as poesias de um dia avulso. E por impulso, tudo se construiu só, sozinho. Tudo se encaixou, então deixou a história trilhar seu caminho. Fez sua obra e a enciumou pela importância.
Cuidou dos versos mais de que seu corpo, que seu futuro. Criava-se uma fera banguela.
Cuspiu as palavras na face alheia (talvez esse fora seu grande erro) e liberou caminho para a água ardente, tomou. Gritou.
Fizera-se o livro mais ameno e sereno. Em cada linha, amor.
O poeta desiludido por amor, engavetou.
Até que abriram a gaveta em mais um dia de faxina, e descobriram sua arte. Pior, fez-se interesse por ela. A proporção já estara na outra ponta da mesa, fora do controle do autor.
Ofereceram R$19,00.
Preço equivalente aos sentimentos abatidos do poeta, mas a 1ª parcela de um tanto milionário número que poderia ter sido cobrado por sua arte.
Mesmo por tão pouco, o livro foi vendido. Sua arte encubada, em latência.
Transformaram em novela, em produto televisivo. Enxugaram a essência (a porra da arte), foderam com o senso poético e trocaram por linguagem popular para buscar audiência.
Audiência chula, suja.
Arte morta.