O amor vale!


Sentimos, experimentamos e possuímos o amor, sem saber, todavia, em que consiste. O intelecto será capaz de compreender o que é o amor em si mesmo? É devido ao amor, porém, que o mundo se move. O amor é o eixo em torno do qual todo o cosmo roda.
É devido ao amor que a primavera deslumbrante, resplende.
É por amor que nascem as flores e as rosas aveludam suas pétalas.
É por amor que os animais se movimentam, os felinos saltitam, os pássaros voejam nos ares, os peixes lêem as águas. É por amor que a humanidade avança em sua caminhada... Não fora o amor, a terra seria um deserto sem vida, os animais não se acasalariam, os vegetais não se reproduziriam, o homem se afogaria, isolado, na própria solidão. Não é possível conceber a vida sem o amor!
Nós, humanos, ao permitirmo-nos amar, consequentemente participamos dos multíplices graus de amor dos minerais, dos vegetais e dos animais. Partícipes da vida do universo.
Com e pelo amor vivemos a nossa primavera terrena sorrindo às estações do ano, realizando-nos, atraídos pelos encantos do amor criado que nos impele ora para o alimento, ora para o belo, ora para um outro coração humano, ora para o bem, e desenvolvemos o impulso para o amor incriado: Deus!
Nós, os homens, em nosso pequeno mundo, desde o nascimento, há um vazio que não pode ser preenchido só com o amor terreno. Trazemos em nós uma tensão, uma disponibilidade por um amor que não é de natureza criada, e que é dotado das mesmas características que o Infinito, o Eterno, o Transcendente. Acho que é isso que os teólogos e místicos dizem ser viver sobre a terra, mas ao mesmo tempo orientado para o céu. O que explicaria escolher para si uma esposa, mas perceber que se continua sozinho. Dar vida aos filhos, mas continuar como solitário no meio deles. Há algo de insaciável que nos deixa inquietos, e que não permite jamais estancar a busca, a procura, a ânsia. Assemelha-se a um abismo que procura outro abismo. Esse amor incriado, essa amante distante e ao mesmo tempo tão perto, essa realidade desconhecida e, não obstante, já experimentada naquele fugaz momento de gozo do amor carnal, continua sendo objeto da nossa aspiração, das buscas, dos nossos suspiros.
Todo amor, criado ou incriado, realiza-se através da união, dos esponsais, e no instante em que se realiza, produz uma espécie de saciedade, de alegria, de paz após o fragor de um doce embate, de posse. O faminto busca o alimento, une-se com ele e realiza assim a vida física. Um coração procura outro coração e nele realiza a amizade, a doação de si próprio. Um corpo procura outro corpo e nele fecunda a vida da alma. A inteligência procura a verdade e une-se a ela.
A vida de amor de um homem e uma mulher (sem preconceitos, por favor) constitui a imagem mais perfeita daquilo que se verifica em todo o universo, desde as reações químicas à rotação dos astros, desde a vida das flores ao ninho dos pássaros, desde a oração dos místicos ao véu da nubente que se oferece.
Amar é a aventura mais profunda do amor. Não se sossega, nem há como atalhar caminhos, enquanto não amar.
O que vale é o amor! Todos os caminhos conduzem a ele, à sua contemplação, vivência e posse. Não há outro caminho... a não ser que... mas deixemos de lado as coisas tristes...