O VENDEDOR DE PEIDO

Conta-nos o escritor barbalhense Tércio de Freitas, em seu livro “A ressurreição de Zé Bonzim“, que existia em Barbalha um personagem um tanto quanto curioso, chamado de “Na Parada”, apelido este decorrente de sua mania de chamar todo mundo de “na paradinha”.

Era um cabra comedor de pequi de quase dois metros de altura, com a força de três homens, que levava a vida a carregar latas d’água de um lado para outro para vender nos tempos de seca braba e para isso, percorria dezenas de vezes por dia, cerca de dois quilômetros sem nem mesmo soltar sequer um gemido.

Além de vender água, o disgramado ainda vendia peido. Isso mesmo, entre uma viagem e outra com as latas nas costas, ele vendia as bufas a dez centavos a unidade. Se alguém oferecesse um cruzeiro, ele se contorcia todo e soltava dez peidos, dois cruzeiros, vinte e assim por diante. Parecia até que o canalha tinha uma válvula dosadora no boga ou uma reserva especial de fermento nas tripas. E eram peidos sonoros e desavergonhados que faziam corar as velhas corocas, que reclamavam tapando o nariz e a boca com grande alarido e alvoroço.

- Isso é um amaldiçoado! – Dizia uma velha ali.

- Esse cabra deve tá é com um encosto! – praguejava outra velha acolá.

- Isso é um cu ou é uma trombeta? – comentava um transeunte horrorizado com a cena dantesca.

- Nem imagino um feladaputa desse cagando. Deve encher o tacho de merda até a tampa! – observava outro desocupado quase vomitando de tanto asco. - Eu que num quero comprar água desse desgraçado! Deve tá cheia de peido boiando!

E assim a desavergonhada figura peidorreira levava a vida a peidar e a vender água, entre uma cachaça e outra na bodega do Antônio Geraldo, ponto de encontro da canalhada barbalhense de antigamente.

Certo dia, conversando com o jornalista acejiano Aldemir Sobreira, perguntei se ele já tinha ouvido falar do dito cujo, já que o Aldemir é juazeirense, afilhado do meu Padim Pade Ciço e pesquisador da cultura popular nordestina.

- Conheço demais! O cabra era um peidão de primeira! Meu pai conheceu ele pessoalmente e até lhe comprou uns peidos! Mas tinha uma coisa: ele não vendia peido fiado! – confirmou Aldemir, já se sentido um biógrafo do bufão.

- E tem mais: com cinco centavos você podia comprar meio peido!

Agora, saber como ele podia dividir um peido já é um tanto arriscoso! Esse pessoal do sertão conta cada presepada. Eu digo é valha!