RELAÇÕES FAMILIARES

Apesar de todo avanço no sentido de se reconhecer o valor e a importância do sexo feminino além do âmbito familiar ocorrido nos últimos tempos, ainda há registros de casos em que, notadamente o homem da casa, exerce sobre a esposa e as filhas o poder da coerção, agindo como se os valores do século XIX ainda fossem de uso corrente.

Não é raro ouvirem-se relatos de casos de agressões verbais e até físicas, que caracterizam o assédio moral, como figura de direito, e mais assiduamente a pressão econômica que, na maioria das vezes, vêm revestidas com o manto da chantagem sentimental, onde são supervalorizados os cuidados e a dedicação que esse déspota dispensou à pessoa agredida, para justificar sua interferência e o impedimento naquilo que a pessoa humana tem de mais caro: a autodeterminação.

Não duvido que haja amor nessas relações, mas bem acima desse amor que seria libertador, existe o sentimento de posse. As filhas e a esposa são consideradas propriedades do pai ou esposo, que se imagina com direito inalienável de decidir o que essas mulheres devem e principalmente o que não devem fazer.

Sem dúvida que estamos tratando de um desvio de comportamento, difícil de ser enfrentado pelas vítimas e, em raras oportunidades, reconhecido e modificado pelo agressor.

O ser humano geralmente, quando adulto, não mais se sujeita às determinações dos pais que seu atual nível de consciência considera erradas, principalmente aquelas que na infância e adolescência, foi obrigado a se sujeitar por ser um período da vida em que não podia se rebelar.

Faltavam-lhe os meios de subsistência.

Esse fenômeno fica evidente quando a jovem que já conseguiu a independência financeira se vê “obrigada” a sair da casa dos pais para poder exercer com plenitude o papel que seu novo status lhe propicia e a relação familiar que já era instável, deriva para o campo do ressentimento e do remorso, pelas palavras duras que são trocadas nos momentos dos embates.

Quando o alvo da discórdia é a filha, a esposa fica do lado do marido, muitas vezes sem concordar com ele, a fim de se poupar de agressão semelhante.

Passado o momento de maior estresse, se junta à filha com o repertório hipócrita das frases feitas:

- Seu pai é assim mesmo minha filha. Ele age assim para lhe proteger.

Essa é a maneira que ele tem para demonstrar que lhe ama.

Num trabalho de enfermeira dos antigos campos de batalha, tenta tamponar as feridas dos contendores para ficar de bem com os dois lados.

A figura da mulher “rainha do lar” submissa e dócil ficou no passado.

Hoje em dia a mulher não precisa mais ter um marido, substituto e herdeiro universal da autoridade paterna, para decidir o que é melhor para si.

Infelizmente muitos homens ainda não entenderam que a revolução que se espalhou pelo mundo a partir de 1960, revelou o lado empreendedor e multifuncional das mulheres que até então eram vistas como objetos de decoração ou de prazer.

Está sobejamente demonstrada a capacidade operacional da mulher em qualquer atividade e esses homens, socialmente míopes e retrógrados que não querem reconhecer que o tempo passou e os costumes mudaram, continuarão se sentindo roubados e apelando para simulação de enfarto do miocárdio ou outras enfermidades para que, pelo menos na casa onde ele paga as contas, nada mude até que a determinação seja dele.

Alberto Vasconcelos da Rocha. Carpina/PE 16.09.11 – 14h50