Ainda não é tempo!

Sem perceber que os dias corriam soltos, fui sacudida pelos chilreados de pássaros saindo do ninho. Eram os Casacas de couro. Um mais afoito resolveu bater asas enquanto os outros botavam a cara e depois se escondiam no aconchegante e seguro ninho.

Parei. Larguei o que estava fazendo e fiquei a espreita, tentava compreender os primeiros passos ousados daquelas aves fofinhas, porém tão frágeis diante da vida cheia de predadores.

Onde estão os pais dessas fofuras?Pensei que estavam longe... Logo apareceram dando sinais de inquietação.Os outros dois, como que envergonhados por tentarem sair do ninho antes do tempo, imediatamente entocaram-se, mas e o outro? Teimoso, insistia em voar. Enquanto o pai zelava os que estavam no ninho, parecia até que lhes dava aquela bronca merecida; a mãe voava em direção ao filhote fujão e desesperada tentava fazê-lo voltar. Parecia dizer-lhe: “ Ainda não é tempo! Filho, o mundo está cheio de armadilha e enquanto você estiver conosco faremos de tudo para poupar-lhe dissabor.Há tanta ameaça, há tanta máscara, há tanta oferta tentadora, mas no final...é morte, é sofrimento... No mínimo, um pedaço que será tirado e que jamais poderá ser recuperado, consertado, amenizado.Filho, ainda não é tempo de saíres do ninho”.

Filhote teimoso, não dando ouvido à voz materna, em voos rasantes, desejando lhe passar a mensagem de que era ave feita, já tinha penas, asas, e pernas fortes... Já sabia escolher os petiscos e o campo parecia tão convidativo... Em questão de segundos, caiu de cima do telhado e foi cair dentro do matagal que lhe era desconhecido. Ali os predadores lhe esperavam.

E... Era uma vez a história de um casaca de couro fujão que teve um encontro com uma ratazana faminta e que jamais perdia as oportunidades que a lei da sobrevivência lhe havia ensinado. Será que ele teve tempo de aprender a lição?

16/09/11