Telas na Rodoviária
Pois agora, quem anda pela Rodoviária do Plano Piloto não pode mais alegar ignorância. O governo achou por bem instalar totens informativos em cada parada de ônibus que por lá existe. A informação principal é o número e o itinerário da linha – coisas que aqui em Brasília, como já tive oportunidade de observar, são na verdade poemas concretos. É uma informação útil, mas que já existia. A diferença é que estavam em placas, reles placas, e agora estão em grandiosas telas computadorizadas. Agora, cada parada de ônibus também é identificada por uma letra e um número, assim como na batalha naval. A própria Rodoviária foi dividida de acordo com o alfabeto. Para se localizar, não é mais preciso mencionar a Pastelaria Viçosa, mas apenas mencionar se é o bloco A, B ou C. E tudo isso vai estar disponível numa tela muito bonita, na frente de cada passageiro.
Imagino que não foi por mero acaso ou esquecimento que as ditas telas não apresentam informações sobre o horário de partida dos ônibus – justamente a informação mais importante. Isso poderia obrigar as empresas a cumprir seus horários. Caso contrário, o passageiro olharia para a tela, veria que o seu ônibus está atrasado, e provavelmente se irritaria. Em nome da paz na ordem pública de Brasília, omite-se a informação.
Além das linhas e itinerários, essas telas oferecem a maior parte do seu espaço para notícias, produzidas pelo Jornal de Brasília. Na verdade, são apenas manchetes, que precisam dizer tudo em poucas palavras. São veiculadas notícias de todas as editorias, com destaque para esportes, naturalmente, política, infelizmente, e cidades, obviamente. Há até um espaço para as celebridades Foi graças a uma dessas telas, por exemplo, que fiquei sabendo que Débora Secco foi a sensação de um desfile em Goiânia. As telas, muito simpáticas, também me informaram que eu estava em momento muito propício a dois. Por outro lado, avisaram-me de que eu poderia atuar como mediador entre confusões de terceiros. E não apenas eu, mas todos aqueles que nasceram entre 20 de abril e 20 de maio.
É certo que não há grande novidade no objetivo dessas telas. São as mesmas que já existem – e fracassam clamorosamente – dentro de alguns ônibus. Também estão presentes nos shopping centers, onde também não fazem grande sucesso. O único lugar em que essas telas funcionam de verdade é no elevador, porque nos obrigamos a olhar para elas a fim de não ter que nos suportar uns aos outros. Na Rodoviária, definitivamente não estava entre as prioridades. E digo isso depois de ouvir uma senhora na fila do meu ônibus. Ela reclamava da ausência de escadas rolantes funcionando. Ao que tudo indica, existe um sistema de rodízio por lá: primeira estraga-se a escada que sobe, depois a que desce. E a senhora, que tinha dores nas pernas, era obrigar a subir pelas escadas normais. Dizia ela, no entanto, que o governador Agnelo prometeu resolver o problema até o final do ano.
Eu espero que seja verdade, porque ele também prometeu integrar o sistema de transporte coletivo no Distrito Federal – coisa que a minha modesta São Bento do Sul já fez há muitos anos. Parece-me, no entanto, que a ninguém do governo surgirá a espantosa ideia de transferir algumas linhas de ônibus da Rodoviária, que está cada vez mais infernal, para algum outro lugar. É possível que alegassem não existir mais lugares disponíveis na região central de Brasília – todos os disponíveis serão destinados ao setor hoteleiro, porque, antes de tudo, é preciso hospedar os turistas da Copa de 2014.
Um problema de cada vez.