O desabafo Inesperado
O papo foi informal. Na verdade, um desabafo. Só uma boca pra falar e alguns ouvidos para ouvir.
O cenário, uma rua do subúrbio carioca e a "platéia" que "assistia" a um corpo, de um semelhante, que jazia em meio a uma poça de sangue. O policial, chamado para tomar as primeiras medidas legais, olhou com cara de "poucos amigos" para o defunto e depois para grupo de pessoas. Estranhamente abaixou-se diante do morto e passou a falar:
- É triste cara, ver um garoto tão jovem morto assim. Não viveu nada. Não curtiu a juventude. Penso nos meus filhos e em toda preocupação que tenho como pai. O que será dos pais deste aí? Enterrar um filho deve ser horrível cara! Por que essa molecada não se liga? Volta pra escola, volta aos bailes pra dançar de rosto coladinho? Por que entram nas drogas? Por que passam a roubar? Meu Deus! Todo dia é isso, tenho que atender a chamados como este... Ninguém faz nada! Por que as redes sociais, a mídia, as igrejas e os governos não passam a incentivar as famílias? Isso cara! por que não incentivam os almoços de domingo? As conversas no portão? O respeito aos pais? Por quê? Enquanto não nos voltarmos para a família, vamos continuar tratando o mal no resultado (Aponta para o corpo).
O desabafo do policial Almeida foi ouvido por alguns que lá estavam. Uns debocharam, outros ignoraram, já alguns poucos pensaram e um, pelo menos, anotou tudo e transformou num texto.
Depois repassou para que outros leiam e escolham que caminho tomar.